Saturday, December 24, 2011

O Natal

Tipos de Crente

A VIDA E A MORTE DE UM MÁRTIR MODERNO

Nascido na riqueza Dietrich Bonhoeffer caminhava para uma carreira brilhante como teólogo, até passar a ver a vida sob a perspectiva daqueles que sofrem, na Alemanha nazista. Isso lhe custou a vida.

Por Christian History & Biography
Por Geffrey B. Kelly

Em 1942, o pastor luterano Dietrich Bonhoeffer enviou um presente de Natal à sua família e amigos que estiveram envolvidos em um fracassado plano para matar Hitler. Era um ensaio intitulado After Ten Years (Depois de dez anos). Nele, Bonhoeffer lembrou a seus companheiros de conspiração dos ideais pelos quais eles estavam dispostos a dar suas vidas. Em suas palavras: “Nós aprendemos, de uma vez por todas, a ver os grandes eventos da história do mundo de baixo para cima, das perspectivas dos proscritos, suspeitos, maltratados, impotentes, oprimidos e injuriados – em resumo, da perspectiva daqueles que sofrem”.

Conforme ele analisava as várias razões pelas quais eles tinham que matar Hitler e derrubar o governo nazista, Bonhoeffer lhes falava do exemplo de Cristo. Jesus, de boa vontade, arriscou sua vida defendendo os pobres e proscritos de sua sociedade – mesmo ao custo de uma violenta morte.

Na época de sua prisão, a vida de Bonhoeffer tinha se tornado uma jornada de entrelaçamento, na qual ele tinha entrado por causa desta “visão de baixo para cima”. Sua opção de vida lhe tirou de uma confortável posição de professor universitário à liderança isolada de uma oposição minoritária dentro de sua igreja contra seu governo. Ele saiu da segurança de um refúgio fora do país para a vida perigosa de um conspirador. Ele desceu dos privilégios do ministério eclesiástico e o respeito dado a uma família nobre, para sua árdua prisão e mais tarde sua morte como traidor de seu país.

Determinação de aço - Poucas pessoas teriam predito que o jovem Bonhoeffer terminaria como um conspirador político. Nascido em Breslau, em 1906, Dietrich era o quarto filho homem e sexto filho dentre todos (sua irmã gêmea, Sabine, nasceu momentos depois). Sua mãe, Paula von Hase, era filha de um pregador da corte do Kaiser Wilhelm II. O pai de Dietrich, Karl Bonhoeffer, era um famoso médico psiquiatra e professor universitário.

Quando era um rapazinho de 14 anos, Dietrich surpreendeu sua família declarando que não queria nada mais do que ser um ministro da igreja. Este anúncio provocou uma pequena consternação entre seus irmãos homens. Um estava destinado a ser físico, o outro, advogado; ambos eram pessoas de sucesso, para quem o serviço na igreja parecia um trabalho que não simbolizava uma alta responsabilidade para a burguesia, era algo inferior a eles e sua capacidade. Seu pai sentiu-se da mesma forma, mas ficou em silêncio, preferindo conceder a seu filho a liberdade de cometer seus próprios erros. Quando sua família criticou a igreja como egoísta e covarde, um lampejo da determinação de aço de Dietrich surgiu dele a frase: “Neste caso, eu a reformarei!”.

Um “milagre teológico” - Seguindo um costume de família, o jovem Dietrich estudou na Universidade de Tübingen por um ano antes de mudar para a Universidade de Berlim, onde morava a família. Na universidade, ele veio a estar sob a influência do conhecido historiador da igreja Adolf von Harnack e Karl Holl, um estudioso sobre Lutero. Von Harnack considerou Bonhoeffer como um grande historiador da igreja em potencial, capaz de um dia subir no seu próprio pódio.

Para tristeza de von Harnack, Bonhoeffer dirigiu suas energias do mundo acadêmico para o campo dogmático. Seu maior interesse ficava nos assuntos da Cristologia e da Eclesiologia. Sua dissertação, The Communion of Saints (A comunhão dos santos), foi completada em 1927, quando ele tinha apenas 21 anos. Karl Barth a celebrou com um “milagre teológico”.

Nesta dissertação, Bonhoeffer declara numa sonora frase que a igreja é “Cristo existindo em comunidade”. A igreja para ele não é nem uma sociedade ideal, sem necessidade de reforma, nem o ajuntamento de uma elite cheia de dons. Pelo contrário, ela é tanto uma comunhão de pecadores capazes de seres infiéis ao evangelho, quando é uma comunhão de santos para quem servir um ao outro deve ser uma alegria.

Triste encontro com a pobreza - Como ainda não estava na idade mínima para ordenação e precisava de experiência prática, Bonhoeffer interrompeu sua carreira acadêmica. Ele aceitou uma indicação como pastor-assistente numa igreja em Barcelona que tendia para as necessidades espirituais da comunidade de negócios alemã.

Seus meses na Espanha (1928–29) coincidiram com as primeiras repercussões da Grande Depressão, dessa forma a vida de pastor em Barcelona deu a Bonhoeffer seu primeiro triste encontro com a pobreza. Ele ajudou a organizar um programa que sua igreja estendeu aos desempregados. Em desespero, ele mesmo implorou por dinheiro à sua família para este propósito. Num sermão memorável, ele lembrou ao seu povo que “Deus caminha entre nós em forma humana, falando a nós naqueles que cruzam nosso caminho, sejam eles estranhos, mendigos, doentes, ou mesmo naqueles mais perto de nós em nosso dia a dia, tornando-se a ordem de Cristo em nossa fé nele”.

De volta à Alemanha, Bonhoeffer voltou sua atenção para sua “segunda dissertação” – exigida para conseguir uma designação na universidade. Publicada como um livro em 1931, Act and Being (Ser e agir) externamente parece ser um rápido tour de filosofias e teologias de revelação. Se a revelação é “agir”, então a Palavra eterna de Deus interrompe a vida da pessoa de um modo direto, intervindo muitas vezes quando menos se espera. Se a revelação é “ser”, então é a presença contínua de Cristo na igreja. Através de todas as análises cruzadas deste livro, nós também detectamos a luta profunda de Bonhoeffer entre o conforto do status acadêmico e o perturbador chamado de Cristo para ser um cristão genuíno.

Primeira visita à América - Tendo assegurada sua indicação para a universidade, Bonhoeffer decidiu então aceitar uma bolsa de pesquisa Sloane. Esta lhe ofereceu um ano de estudos adicionais no Union Theological Seminary, em Nova York. Mais tarde ele descreveu este ano acadêmico de 1930–31 como “uma grande libertação”.

A princípio, Bonhoeffer olhou preocupadamente para o Seminário de Teologia União, julgando que ele fosse tão permeado de humanismo liberal que tivesse perdido suas amarras teológicas. Mas cursos com Reinhold Niebuhr e longas conversas com seu amigo mais próximo, o americano Paul Lehmann, trouxeram sensibilidade aos problemas sociais.

As amizades de Bonhoeffer no Union Seminary influenciaram-no profundamente. Elas alimentaram sua crescente paixão pelas preocupações do Sermão do Monte. Através de um aluno negro do Alabama, o reverendo Frank Fisher, Bonhoeffer experimentou em primeira mão o racismo opressivo sofrido pela comunidade negra do Harlem.
Admirando os serviços desta igreja, que valorizavam a vida, ele levou gravações dos negro spirituals para a Alemanha para tocar para seus alunos e seminaristas. Ele falou aos alunos freqüentemente sobre a injustiça racial na América, prevendo que o racismo se tornaria “um dos problemas futuros mais críticos para chamada igreja branca”.

Outro amigo, o pacifista francês Jean Lasserre, levou Bonhoeffer a transcender sua ligação natural à Alemanha para assumir um compromisso maior com a causa da paz mundial. Bonhoeffer tornou-se devoto da resistência pacífica ao mal, e mais tarde ele defendeu com veemência a paz em encontros ecumênicos. Para Bonhoeffer, a guerra claramente negava o evangelho; nela os cristãos matavam uns aos outros para ideais alardeados que só mascaravam objetivos políticos mais sinistros.

As pessoas perceberam as mudanças na perspectiva de Bonhoeffer em sua volta à Universidade de Berlim. Seus alunos o descreveram como diferente de seus colegas, estes mais enfadonhos e desinteressados. Tentando explicar o que houve com ele, Bonhoeffer disse simplesmente que tinha se tornado cristão. Como ele mesmo disse, ele esteve pela primeira vez na sua vida “no trilho certo”, dizendo ainda: “Eu sei que por dentro serei realmente claro e honesto somente quando eu tiver começado a levar a sério o Sermão do Monte”.

Palestrante universitário eletrizante - Retornando da América, Bonhoeffer fez uma pausa na Universidade de Bonn, onde ele finalmente conheceu o teólogo Karl Barth. Os escritos de Barth tinham impressionado o mundo teológico e cativado Bonhoeffer durante seus anos de estudante em Berlim. Os dois ficaram amigos, então. Barth apreciava os alertas incisivos de Bonhoeffer sobre a acomodação das ideologias políticas na religião organizada. Bonhoeffer começou a usar Barth como um meio de divulgação de suas opiniões, confiando nas avaliações maduras de Barth sobre como contra-atacar as concessões da igreja ao nazismo.

Sendo o professor mais jovem da faculdade, Bonhoeffer ficou conhecido pelo seu jeito de ir até o fundo de uma questão e abordar os assuntos na sua revelância atual. Um aluno escreveu que sob a direção de Bonhoeffer “cada frase encontrava seu lugar; havia uma preocupação pelo que me perturbava, e de fato, todos nós jovens, o que perguntávamos e o que queríamos saber”. Mas a carreira de ensino de Bonhoeffer foi ofuscada pela ascensão de Hitler ao poder. Os alunos atraídos pelo nazismo o evitavam.

Alguns dos cursos de Bonhoeffer na universidade durante este período foram publicados como livros desde então. Em The Nature of the Church, (A natureza da igreja), Bonhoeffer observou que a igreja ficou à deriva; ela, com muita freqüência, buscou o conforto dos privilegiados. A igreja, ele disse aos seus alunos, tinha que confessar a fé em Jesus com coragem incomum e rejeitar sem hesitação toda idolatria secular.

Em suas palestras sobre Cristologia, publicada como Christ the Center (Cristo o centro), Bonhoeffer insistiu com seus alunos a responder perguntas perturbadoras: Quem é Jesus, no mundo de 1933? Onde Ele pode ser achado? Para ele, o Cristo de 1933 era o judeu perseguido e o dissidente na luta da igreja.

Durante os anos na universidade, Bonhoeffer também achou tempo para ensinar em uma favela de Berlin. Para ser mais envolvido na vida destes alunos, ele se mudou para a sua vizinhança, visitou suas famílias e os convidou a passar finais de semana num chalé alugado na montanha. Depois da guerra, um destes alunos lembrou que “a turma dificilmente ficava agitada”.

Crescente luta da igreja - Durante este período, muitos cristãos dentro da Alemanha adotaram o Socialismo Nacional de Hitler como parte de seu credo. Conhecidos como “cristãos alemães”, seu porta-voz Hermann Grüner, deixou claro o que eles defendiam:
“O tempo se completou em Hitler para as pessoas na Alemanha. É por causa de Hitler que Cristo, Deus, o ajudador e remidor, tornou-se eficaz entre nós. Portanto, o Socialismo Nacional é cristianismo positivo em ação... Hitler é o modo do Espírito e da vontade de Deus para o povo alemão entrar na igreja de Cristo”.

Ordenado em 15 de novembro de 1931, Bonhoeffer, com seu grupo de “Jovens Reformadores”, tentou persuadir delegados nos sínodos da igreja a não votar em candidatos pró-Hitler. Num sermão memorável, logo antes das eleições na igreja em julho de 1933, Bonhoeffer apelou: “Igreja, permaneça uma igreja! Confesse, confesse, confesse!” Apesar dos seus esforços, os cristãos alemães elegeram como Bispo Nacional um simpatizante do nazismo, Ludwig Müller. Numa carta à sua avó, em agosto daquele ano, Bonhoeffer afirmou com franqueza: “O conflito é realmente ser Alemão ou ser Cristão e o quanto antes este conflito ficar às claras, melhor”.

Em setembro de 1933, o conflito ficou às claras. No “Sínodo Marrom” naquele mês (chamado assim porque muitos dos religiosos usavam uniformes nazistas marrons e faziam a saudação nazista), a igreja adotou a “Frase Ariana”, que negava o púlpito a ministros ordenados que tivessem sangue judeu. O amigo mais próximo de Bonhoeffer, Franz Hildebrandt, foi afetado pela legislação (junto com muitos outros). A Frase Ariana dividiu a Igreja Protestante alemã.

Defesa aberta dos judeus - A primeira reação pública de Bonhoeffer à legislação anti-semita chegou logo. Em abril de 1933, ele falou a um grupo de pastores sobre “A Igreja e a questão judaica”. Neste sermão, ele pediu as igrejas para, em primeiro lugar, desafiar com ousadia o governo que justifica tais leis, obviamente imorais. Segundo, ele exigiu que a igreja viesse em socorro das vítimas – batizadas ou não. Finalmente, ele declarou que a igreja devia “travar as rodas” do governo se a perseguição aos judeus continuasse. Muitos dos que ali estavam saíram correndo, convencidos de que tinham ouvido a incitação para um motim.

Logo após o Sínodo Marrom, Bonhoeffer e um herói da Primeira Guerra Mundial, o pastor Martin Niemöller, formaram a “Liga de Emergência dos Pastores”. Eles defendiam a luta para repelir a Frase Ariana, e no fim de setembro, tinham obtido 2.000 assinaturas. Mas, para decepção de Bonhoeffer, mais uma vez os bispos da igreja continuaram em silêncio.

No Sínodo de Barmen, de 29 a 31 de maio de 1934, entretanto, a nova “Igreja Confessante” (aqueles pastores que se opuseram à Frase Ariana e outras políticas nazistas) afirmaram a agora famosa Confissão de Fé de Barmen. Concebida em grande parte por Karl Barth, sua associação do Hitlerismo com idolatria fez simpatizantes entre os homens marcados pela Gestapo, e dentre outras coisa dizia: “Nós repudiamos o falso ensino de que há áreas em nossa vida que não pertencem a Jesus Cristo, mas a outros senhores…”

Abandonando uma carreira promissora - Uma vez que os cristãos alemães estavam agora entrincheirados em posições de liderança na igreja, Bonhoeffer foi rejeitado para um pastorado me uma igreja local. Os comentários contra ele apontaram sua posição radical e intempestiva às políticas governamentais. E ele foi considerado muito ligado ao seu amigo cristão-judeu, Franz Hildebrandt. A assustadora “nazificação” das igrejas deixou Bonhoeffer sentindo-se isolado e incapaz de esboçar uma oposição destemida a Hitler dentre os pastores.

Em sua posição de ensino, ele sentiu que a universidade tinha se ligado indesculpavelmente ao sentimento popular que exaltava Hitler como salvador político. Ele ficou perturbado também pela falta de protesto diante do afastamento de professores judeus. Estas frustrações facilitaram a decisão de deixar a Alemanha. No outono de 1933, ele assumiu o pastorado de duas igrejas de língua alemã em Londres.

Por causa desta atitude Bonhoeffer foi severamente repreendido por Karl Barth, que achou que ele estivesse fugindo de cena quando ele era mais necessário. Barth acusou Bonhoeffer de privar a luta da igreja de seu “esplêndido arsenal teológico” e de sua “correta figura alemã”.

Mas Bonhoeffer ainda não estava abandonando a luta contra o nazismo. De Londres, ele pretendia trazer pressão externa sobre a igreja do Reich Alemão. Numa carta ao líder do Ministério Eclesiástico Estrangeiro, Bonhoeffer recusou a se abster de criticar o governo alemão.

Dietrich Bonhoeffer e outros delegados foram a uma conferência ecumênica em Fano, na Dinamarca, em 1934. Na conferência, Bonhoeffer pregou um sermão aos líderes cristãos de mais de 15 nações. “O mundo está sufocando com armas”, ele disse, “e a desconfiança que salta dos olhos de cada ser humano é assustadora. As trombetas da guerra podem tocar amanhã”. Nesta ocasião, ele insistiu para que os cristãos falassem contra a guerra e ousassem pelo “grande empreendimento” da paz.

Buscando para o mundo o apoio da igreja - Era no nível ecumênico que Bonhoeffer esperava continuar mais efetivamente na luta da igreja. Ele tinha sido indicado secretário da juventude para a Aliança Mundial para Promover a Amizade Internacional através das Igrejas (um precursor do Conselho Mundial das Igrejas). Neste papel, ele ajuntou as igrejas internacionais para fazer um forte protesto anti-nazismo, para apoiar a Igreja Confessante e para expulsar a igreja do Reich do movimento ecumênico.

Suas atividades levaram a uma amizade duradoura com o bispo inglês George Bell. Bell era presidente do Conselho Universal Cristão para a Vida e Trabalho, que trabalhava de perto com a Aliança Mundial. Ele apoiava a luta de Bonhoeffer para que a Igreja Confessante fosse reconhecida como a única representante da igreja protestante na Alemanha.

Os esforços de Bonhoeffer alcançaram um clímax na conferência de 1934 em Fano, na Dinamarca. A Comissão Ecumênica de Jovens, da qual Bonhoeffer fazia parte, surpreendeu os delegados por sua recusa em expressar resoluções em uma polida linguagem diplomática. Além disso, Bonhoeffer queria que as igrejas declarassem não-cristã qualquer igreja que tivesse se tornado meramente uma audiência neutra nas questões políticas. Todos os delegados sabiam que a Igreja do Reich era o alvo de tais resoluções.

A contribuição mais duradoura de Bonhoeffer para esta conferência, entretanto, foi um sermão matinal inesquecível sobre a paz, chamado “A Igreja e os povos do mundo”. Seu aluno, Otto Dudzus relatou que as palavras de Bonhoeffer deixaram os delegados “prendendo a respiração de tanta tensão”. Como poderiam as igrejas justificar sua existência, ele perguntou, se elas não tomavam medidas para impedir a marcha em direção a outra guerra? Ele exigiu que o conselho ecumênico se levantasse “para que o mundo, embora esteja rangendo os dentes, tenha que ouvir, para que as pessoas se alegrem por que a igreja de Cristo, no nome de Cristo, tomou as armas das mãos dos seus filhos, proibiu a guerra, proclamou a paz de Cristo contra o mundo irado”. Uma frase deste sermão ficou para sempre marcada nas memórias dos alunos de Bonhoeffer: “Temos que nos atrever pela paz. Este é o grande empreendimento!”. Até mesmo Dudzus lembrou que “Bonhoeffer tinha seguido tanto à frente que a conferência não podia segui-lo”.

Um ousado e ilegal novo seminário - Em 1935, os líderes da Igreja Confessante pediram a Bonhoeffer para dirigir um seminário ilegal perto do mar Báltico. Para a Igreja Confessante, estabelecer seus próprios seminários era um passo ousado. Eles simplesmente contornavam o treinamento típico dos candidatos nas universidades contaminadas pelo nazismo. Com seus próprios seminários, eles podiam ignorar as exigências para que os candidatos provassem seu sangue puro ariano e lealdade ao nazismo como condições para a ordenação. Estes seminários eram apoiados não por ajuda do governo, mas por ofertas de boa vontade.

Os jovens candidatos, que se juntavam primeiro em Zingst, no mar Báltico e mais tarde em uma escola particular abandonada, em Finkenwalde, lembram-se do seminário como um oásis de liberdade e paz. Bonhoeffer estruturava o dia ao redor da oração em comum, meditação, leituras bíblicas e reflexão, serviço fraternal, e suas próprias palestras. Cada dia era aliviado pela recreação, além de cantarem os negro spirituals que Bonhoeffer trouxera da América.

Mas o ponto alto de seu treinamento, eram as palestras de Bonhoeffer sobre discipulado. Elas deram origem ao mais conhecido de seus livros O discipulado. Nele, Bonhoeffer acusou os cristãos de buscarem “graça barata”, que garantia uma salvação na base da barganha, mas não fazia exigências reais às pessoas, envenenando, dessa forma, “a vida de seguir a Cristo”. Ele desafia os leitores a seguir a Cristo até a cruz, a aceitar “a graça de alto preço”, da fé que vive em solidariedade com as vítimas de sociedades sem coração.

A Gestapo fechou o seminário em outubro de 1937. Bonhoeffer tentou então conduzir um “seminário secreto em atividade”. Mas não houve sucesso. O espírito de Finkenwalde sobreviveu, entretanto, no Vida em comunhão. Publicado em 1939, o livro registra as “experiências em comunidade” dos alunos. A igreja, Bonhoeffer acreditava, precisava promover um senso genuíno de comunidade cristã. Sem isso, não poderia testemunhar com eficácia contra a ideologia nacionalista na qual a Alemanha havia sucumbido. A congregação de uma igreja não era para ser fechada em si mesma, mas ser um ponto de apoio para os esgotados espiritualmente e um refúgio para os perseguidos. Através da oração e serviço a igreja podia tornar-se novamente “Cristo existindo como comunidade”.

A falta de coragem da igreja - Os anos de 1937 a 1939 foram particularmente problemáticos para Bonhoeffer e seu papel na luta da igreja. Os líderes da Igreja Confessante pareciam não ter firmeza na questão de ser contra fazer o pacto civil a Hitler. Ele ofereceu aos ministros da Igreja Confessante legitimidade para retomar seu apoio silencioso aos seus planos expansionistas, incluindo a anexação da Áustria. A paz, a respeitabilidade e o patriotismo eram a isca. Bonhoeffer queria que os bispos defendessem o direito dos pastores de se recusarem a fazer o pacto de fidelidade a Adolf Hitler.

Bonhoeffer foi bloqueado, também, em seus esforços para agitar uma oposição mais forte na igreja contra a cruel perseguição aos judeus. Para ele, os sínodos (assembléias) da igreja olhavam apenas os seus próprios interesses. Faltava-lhes o sentimento para assuntos mais urgentes: como contra-atacar o abuso e negação dos direitos civis na Alemanha. Ele censurou publicamente a falta de sensibilidade para com a situação difícil dos pastores aprisionados por suas dissidências.

Se os líderes da igreja levantassem suas vozes em favor dos judeus, Bonhoeffer teria como avaliar o sucesso ou o fracasso do sínodo. “Onde está seu irmão Abel?” - ele perguntava. Os ensaios e palestras de Bonhoeffer deste período exibiam sua indignação contra a covardia dos bispos. Ele freqüentemente citava Provérbios 31:8 – “Erga a voz em favor dos que não podem se defender”, para explicar o motivo de ser a voz de defesa dos judeus na Alemanha nazista.

Em junho de 1938, o Sexto Sínodo da Igreja Confessante reuniu-se para resolver a última crise da igreja. O Dr. Friedrich Werner, comissário do governo, responsável pela Igreja da Prússia, havia ameaçado expulsar qualquer pastor que se recusasse a fazer, como um “presente de aniversário” a Hitler, o juramento de lealdade civil. Ao invés de lutar pela liberdade da igreja, o sínodo transferiu o peso da decisão para cada pastor individualmente. Este resultado caiu nas mãos da Gestapo, que pôde facilmente identificar os poucos desleais que ousaram recusar-se a fazer o juramento. Enfurecido com os bispos, Bonhoeffer questionava, “Será que a Igreja Confessante nunca irá aprender que, em questões de consciência, a decisão majoritária mata o espírito?”

Viagem por engano à América - No outono de 1938, Bonhoeffer sentia que era um homem sem igreja. Ele não conseguia influenciar a Igreja Confessante a tomar coragem e resistir a um governo civil que ele considerava como o mal inerente. Na frente ecumênica, ele havia se mostrado inapto em persuadir a Aliança Mundial das Igrejas a não aceitar a delegação do Terceiro Reich em sua conferência. Como forma de protesto, em 1937, Bonhoeffer renunciou ao cargo de secretário da Aliança Mundial.

Na chamada “Noite de Cristal” (Kristallnacht), em 9 de novembro de 1938, o frenesi do nazismo anti-semita é permitido contra os cidadãos judeus. A polícia observava passivamente as hordas de alemães quebrar as vidraças das casas e das lojas judias e queimar as sinagogas, brutalizando contra os judeus. Bonhoeffer estava fora de Berlim naquela noite, mas voltou rapidamente para aquele cenário. Ele se recusou a acreditar nas tentativas de atribuir tal violência a tão falada maldição divina sobre os judeus por causa da morte de Cristo. Em sua Bíblia, ele sublinhou Salmo 74:8 – “Disseram em seus corações: ‘Vamos acabar com eles! E queimaram todos os santuários do país’”. – e colocou ao lado a data da Noite de Cristal.

Bonhoeffer sentiu um enorme desapontamento com o vergonhoso silêncio que se seguiu por parte da igreja, sobre aquela noite de selvageria. Este foi um dos fatores que o levou a cogitar uma segunda viagem à América. Ele desejava repensar seu compromisso com a Igreja Confessante, o ponto principal de sua oposição a Hitler.

Outra razão para deixar a Alemanha era a iminente convocação às forças armadas para os de sua faixa etária. Bonhoeffer compreendeu que sua recusa a ingressar no exército traria a ira nazista sobre seus colegas da Igreja Confessante. Bonhoeffer também havia entrado em contato com seu cunhado, Hans Von Dohnanyi, almirante Wilhelm Canaris, e o coronel Hans Oster (todos da unidade de inteligência militar ou Abwehr), que estavam preparando um golpe de estado. Ele temia, inconscientemente, atrair a atenção da Gestapo para este plano.

Por todos estes motivos, Bonhoeffer considerava a possibilidade de deixar a Alemanha, desta vez via um tour de palestras pelos Estados Unidos, no verão de 1939. O americano Paul Lehmann, seu amigo íntimo e o seu primeiro professor Reinhold Niebuhr, estavam ansiosos por resgatar Bonhoeffer do destino reservado aos dissidentes na Alemanha Nazista. Por isso arranjaram o tour com a intenção implícita de que, uma vez iniciada a guerra, ele pudesse permanecer na América. Bonhoeffer embarcou para os Estados Unidos em 2 de junho de 1939.

Entretanto, a tranqüilidade desta viagem era perturbada pela lembrança da perseguição que os pastores dissidentes estavam enfrentando. A Godesberg Declaration, de 04 de abril de 1939, impunha a todos os pastores o dever de devotarem-se completamente a “política nacional de trabalho construtivo do Führer”. Tornava-se cada vez mais perigoso ser enumerado como um dos inimigos do Terceiro Reich. Neste período o diário de Bonhoeffer é repleto de expressões de ansiedade. Porque ele havia ido para a América quando era necessário aos cristãos da Alemanha?

Rapidamente Bonhoeffer mudou de idéia e resolveu voltar. Partiu em 08 de julho de 1939, pouco mais de um mês de sua chegada. “Cometi um engano ao vir para a América”, ele escreveu para Reinhold Niebuhr. “Eu tenho que viver este período da história nacional com os cristãos da Alemanha. Eu não terei direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra, se não compartilhar das aflições deste tempo com o meu povo”.

Atividades de espionagem - Quando retornou ao seu país, Bonhoeffer foi proibido de ensinar, pregar ou de publicar qualquer coisa sem submeter uma cópia do material para aprovação prévia dos nazistas. Ele também recebeu ordens para se apresentar regularmente à polícia. A liberdade para continuar a escrever veio inesperadamente através do seu recrutamento para uma conspiração. Hans von Dohnanyi e o coronel Hans Oster, figuras de prestígio na inteligência militar alemã, arranjaram para tê-lo figurando como indispensável para as atividades de espionagem que desenvolviam. Como Bonhoeffer estava designado para o escritório em Munique, isto o livrou da prisão e o deixou longe da vigilância da Gestapo em Berlim.

Sua missão ostensiva era espionar para a inteligência através de suas “visitas pastorais” e seus contatos ecumênicos. Todavia, sob esta aparência, Bonhoeffer estava envolvido em reais atividades de espionagem. Sua verdadeira e principal missão era conseguir com os Aliados os termos da rendição, caso o plano contra Hitler fosse bem-sucedido. O ponto alto dessas negociações foi em uma reunião secreta com o Bispo Bell, em Sigtuna – Suíça, em maio de 1942. Bonhoeffer convenceu Bell de que ele poderia acreditar que os conspiradores venceriam o governo nazista, restaurariam a democracia na Alemanha e fariam reparações de guerra. Bell levou estas informações ao Secretário Britânico para Assuntos Exteriores, Anthony Eden, mas os aliados responderam que para a Alemanha só havia a condição para uma “rendição incondicional”.

Quando não estava desperdiçando seu tempo no escritório de Munique, Bonhoeffer ficava em seu quartel-general, localizado nas vizinhanças de um mosteiro beneditino. Lá, ele continuava a escrever o que uma vez declarou ser o principal trabalho de sua vida: Ética – obra póstuma reconstruída por Eberhard Bethge. Na verdade, eram os últimos quatro fragmentos dos métodos de construção da ética cristã em meio à crise nacional da Alemanha. Neles, Bonhoeffer criticava a igreja duramente por “não ter levantado sua voz em defesa das vítimas ou... encontrado meios de sair em socorro a elas”. Em uma frase contundente ele declarou a igreja “culpada da morte dos mais fracos e dos mais indefesos irmãos e irmãs de Jesus Cristo”.

Cartas da prisão - Enquanto trabalhava para a Abwehr, Bonhoeffer se envolveu na chamada “Operação 7”: um ousado plano de contrabandear judeus para fora da Alemanha. Isto atraiu suspeitas da Gestapo, e em 05 de abril de 1943, após o fracasso de três atentados contra a vida de Hitler – Bonhoeffer foi preso e encarcerado na prisão militar de Tegel, em Berlim. A princípio, os nazistas tinham apenas acusações vagas contra ele: sua evasão do serviço militar, sua participação na “Operação 7” e suas deslealdades anteriores.

Durante o tempo que passou na prisão, Bonhoeffer escreveu cartas inspirativas e poemas que hoje são considerados como clássicos cristãos. Após a publicação póstuma de Resistência e submissão, por Eberhard Bethge; pessoas de todo o mundo começaram a apreciar a criatividade incansável de Bonhoeffer em busca do significado da fé cristã. Estruturas religiosas sem significado e linguagem teológica abstrata eram respostas insípidas aos clamores das pessoas perdidas em meio ao caos e às mortes nos campos de batalha e campos de concentração.

Nestas cartas, Bonhoeffer também levantava questões perturbadoras que iriam irritar os líderes da igreja. Na carta de 30 de abril de 1944, ele confidencia que “o que mais me preocupa é a questão do que o cristianismo realmente é; ou de fato quem Cristo realmente é, hoje, para cada um de nós”.

Em resposta a esta questão, Bonhoeffer observava que a igreja, ansiosa por manter os privilégios clericais e sobreviver aos anos de guerra com seu status intacto, oferecia apenas, uma religião que servia a interesses próprios, tornando-se um refúgio da responsabilidade pessoal. A igreja falhara em demonstrar qualquer tipo de credibilidade moral em uma “época em que o mundo precisava dela”. A igreja tem que repudiar aqueles “adereços religiosos” que são muitas vezes confundidos erroneamente com a fé autêntica. Para ele, se Jesus é “o homem para os outros”, então a igreja somente poderá ser uma igreja de verdade quando existir para corajosamente servir às pessoas.

Bonhoeffer escreveu, também, cartas à sua noiva, Maria von Wedemeyer. Ele se apaixonara por Maria em 1942, quando conheceu a família dela durante as viagens a serviço da Abwehr. Ele foi atraído por sua beleza, vivacidade e seu espírito independente. Inicialmente, a família dela foi contra a um compromisso entre eles, por ela ser muito mais jovem – ela estava com 18 anos e ele com 37. Ele também estava envolvido em ações secretas que poderiam ser perigosas para ela. Mas após sua prisão, eles anunciaram o noivado publicamente como uma forma de apoio a ele. As visitas de Maria a Bonhoeffer tornaram-se o principal sustento dele durante os primeiros dias sombrios do seu encarceramento.

Uma das cartas que escreveu a Maria, fala do amor dos dois como “um sinal da graça de Deus, e de sua bondade; que nos encoraja a ter fé”. Ele acrescenta ainda, “e eu não falo de uma fé que foge do mundo, mas de algo que faz com que ele sobreviva, e cujo amor e verdade permanecem para o mundo apesar de todo o sofrimento que ele nos traz”.

Campo da morte em Flossenburg - Em 20 de julho de 1944, outro plano para assassinar Hitler falhou. A Gestapo, como resultado de sua rede de investigação, fechou o cerco contra os principais conspiradores, incluindo Bonhoeffer. Ele foi transferido para a prisão da Gestapo em Berlim, em outubro de 1944. Maria e Dietrich Bonhoeffer estavam completamente separados um do outro. Em fevereiro de 1945, Bonhoeffer foi mandado para o campo de concentração de Buchenwald.

Em meio ao caos reinante, por causa do assalto final das tropas aliadas à Alemanha, Maria viajou por todos os campos de concentração entre Berlim e Munique, geralmente a pé, em infrutíferas tentativas de ver Bonhoeffer novamente.

O que sabemos sobre aqueles últimos dias está reunido no livro The Venlo Incident (O incidente de Venlo), escrito por um companheiro de prisão de Bonhoeffer, o oficial da inteligência britânica Payne Best. Bonhoeffer e Payne Best estavam entre os “prisioneiros importantes” levados para Buchenwald. Best escreveu mais tarde sobre Bonhoeffer: “Ele foi um dos poucos homens que conheci para quem o seu Deus era real, e estava sempre junto com ele...”.

No dia 3 de abril, Bonhoeffer e outros presos foram colocados em um vagão de trem e levados para serem exterminados no campo de Flossenbürg. Para transportarem prisioneiros desta maneira, a sentença de morte já havia sido decretada em Berlim. Os guardas da SS cumpririam as formalidades de uma corte marcial, executariam estes inimigos do Terceiro Reich e depois destruiriam seus corpos.

Em 08 de abril, eles alcançaram Schönberg, uma pequenina vila da Bavária, onde os prisioneiros eram amontoados em uma pequena escola usada temporariamente como prisão. Era o primeiro domingo depois da Páscoa, e muitos prisioneiros pediram a Bonhoeffer para liderá-los em culto e orações. Ele aceitou e meditou no livro de Isaías “E por suas chagas fomos curados”. Em seu livro, Best relembra aquele momento: “Ele tocou o coração de cada um, encontrando as palavras certas para expressar o espírito do nosso aprisionamento, os pensamentos e resoluções que isto tinha trazido”.

A quietude foi interrompida assim que a porta foi aberta por dois homens, membros da Gestapo, em trajes civis. Eles ordenaram que Bonhoeffer os seguisse. Para os prisioneiros, isto só podia significar uma única coisa: que ele seria executado em breve. Bonhoeffer arrumou tempo para se despedir de cada um. Puxando Best de lado, ele falou as últimas palavras das quais se têm registro, uma mensagem para seu amigo inglês, o Bispo Bell: “Este é o fim – mas para mim, o início da vida”.

Bem cedo, na manhã de 9 de abril, Bonhoeffer, Wilhelm Canaris, Hans Oster, e mais quatro outros conspiradores foram enforcados no campo de extermínio de Flossenbürg. O médico do campo, que testemunhou as execuções, se lembra de ter visto Bonhoeffer ajoelhar-se e orar antes de ser levado à forca. “Eu fiquei profundamente comovido pela maneira com a qual aquele homem amável orava: tão devotado e tão certo que Deus ouviria sua oração”, ele escreveu. “Naquele lugar de execução, ele novamente fez uma pequena oração e então subiu os degraus para a forca; corajoso e sereno... Nos quase cinqüenta anos em que trabalhei como médico, creio que jamais vi um homem morrer tão completamente submisso à vontade de Deus”.

À distância, soavam os canhões do exército norte-americano do general George Patton. Três semanas depois Hitler cometeria suicídio e, em 7 de maio, a guerra na Europa estaria terminada.

O nazismo contra o qual Bonhoeffer lutou sobrevive no mundo moderno sob outras formas de um mal sistemático. Mas o seu testemunho de Jesus Cristo ainda vive. Bonhoeffer continua a desafiar os cristãos a seguir Jesus até a cruz do genuíno discipulado e a ouvir o clamor dos oprimidos.


Dr. Geffrey B. Kellyé professor de teologia sistemática na La Salle University, na Filadélfia, e autor de “Liberating Faith: Bonhoeffer's Message for Today” (Augsburg, 1984 - Liberando a fé: a mensagem de Bonhoeffer para hoje)

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Thursday, December 22, 2011

Absurdos das redações do ENEM

* Já está muito de difícil de achar os pandas na Amazônia.
Correção: os pandas habitam os bosques de bambu da China.
·····
* os desmatamentos de animais precisam acabar.
Correção: o desmatamento se refere a derrubar árvores de (um terreno, uma região) em larga escala, desfazendo floresta; desmatar; desmadeirar. A palavra correta para ser usada na frase acima seria extinção, que significa fazer desaparecer, acabar, esgotar. “Precisamos defender a extinção dos animais”.
·····
* o maior problema da floresta Amazonas é o desmatamento dos peixes.
Correção: deve-se usar “floresta amazônica” ou “floresta do Amazonas”. O mesmo erro do item anterior, quando se trata de “desmatamento” (se refere a derrubar árvores) e não animais. O correto seria: “o maior problema da floresta amazônica é a extinção dos peixes” ou “o maior problema da floresta amazônica é o seu desmatamento e sua extinção das espécies de peixes”.
·····
* A natureza brasileira só tem 500 anos e já está quase se acabando.
Correção: quando o Brasil foi colonizado pelos portugueses há 500 anos atrás, já existiam aqui os índios e a natureza brasileira...
·····
* nos dias de hoje a educação está muito precoce
Correção: “precoce” diz-se das pessoas com determinadas faculdades prematuramente desenvolvidas: criança precoce. O correto seria: “educação mais desenvolvida”; ato de fazer com que progrida, aumente, melhore, se adiante.
·····
* os lagos são formados pelas bacias esferográficas
Correção: o lago é uma extensão de água cercada de terras, resultante de acumulação de águas de rios e de chuvas. “Esferográficas” se refere às canetas, em cuja ponta há uma esfera metálica que regula a saída da tinta.
·····
* O cerumano (!!!) no mesmo tempo que constrói também destrói, pois nos (!!!) temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos.(!!!)
Correção: ser humano, nós, parcerias juntos (parceria é uma reunião de pessoas para um fim de interesse comum)
·····
* O sero mano (!!!) tem uma missão...
Correção: ainda não acertaram....ser humano.
·····
* vamos mostrar que somos semelhantemente iguais
Correção: A palavra “semelhante” neste caso, indica um adjetivo: parecido, conforme, convizinho. E a palavra “iguais” também é um adjetivo que significa “que tem a mesma aparência, estrutura ou proporção; idêntico, análogo”. Foram usados dois adjetivos que indicam a mesma coisa.
·····
* Na verdade, nem todo desmatamento é tão ruim. Por exemplo, o do Aeds Egipte (!!!) seria um bom benefício para o Brasil.
Correção: desmatamento é o ato ou efeito de desmatar; desflorestamento (derrubar árvores) e não tem nada a ver com o mosquito Aedes Aegypti. A dengue é uma das mais importantes viroses (doenças causadas por vírus). Nos países de clima tropical, as condições do meio-ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, seu principal transmissor. A única maneira de evitar a dengue é não deixar o mosquito nascer. Para isso, é necessário acabar com os criadouros (lugares de nascimento e desenvolvimento do mosquito). Portanto, não deixe a água, mesmo limpa, ficar parada em qualquer tipo de recipiente.
·····
* por isso eu luto para atingir os meus obstáculos
Correção: “obstáculo” significa embaraço, dificuldade, impedimento, estorvo, empecilho, barreira. Lutar para “atingir” quer dizer alcançar, conseguir. Poderia ser “ultrapassar, transpor” os obstáculos. O correto seria: “por isso eu luto para atingir os meus objetivos (ideais)” ou por isso eu luto para transpor os meus obstáculos
·····
* Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu, o verde representa as matas, e o amarelo o ouro. O ouro já foi roubado e as matas estão quase se indo. No dia em que roubarem nosso céu, ficaremos sem bandeira.
Correção: quem poderá roubar o nosso céu? (???)
·····
* a concentização é um fato esperançoso para o território mundial.
Correção: “concentização” não existe. O correto seria a “conscientização”: tomar consciência de; ter noção ou idéia de, tornar ciente, dar ciência, conhecimento; alertar, tomar conhecimento; tornar-se ciente. O correto seria: “a conscientização mundial”.
·····
*O Euninho já provocar secas e enchentes calamitosas...
Correção: El Niño e provocou...
·····
* O problema ainda é maior se tratando da camada Diozônio!
Correção: de Ozônio.
·····
* O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente.
Correção: Entendeu...?

Friday, December 16, 2011

Carta aos desanimados

Durante a caminhada da vida há momentos em que as cores passam a alternar apenas entre tons opacos e sombrios. O que antes despertava paixão, agora parece um fardo. O que encantava o coração torna-se um peso. A alegria é substituída pela apatia, o ardor pela dúvida, a disposição pela desesperança.

Há diversas causas para o desânimo profundo, tanto as biológicas quanto as emocionais e espirituais. Há aqueles que perdem o sabor pela vida a partir das tragédias que se abatem sobre seus dias. A perda de um parente, o desemprego que chega, o casamento que se desfez ou o filho que parece não voltar. Outros perdem a alegria devido a gatilhos mais biológicos, de enfermidades físicas prolongadas ou crises de ansiedade, estresse, depressão e síndromes que teimam em permanecer. Há também os que se encontram desanimados pelo próprio distanciamento do Pai. A vida devocional e os assuntos do Alto já não fazem parte de sua rotina. Não há tempo para orar, ler a Palavra ou cultuar a Deus. O resultado, cedo ou tarde, é o sofrimento e o desânimo da alma.

Um dos cenários bíblicos mais angustiantes que aparenta total exaustão e profundo desânimo se passa com Davi. O desfecho foi surpreendente e o que aconteceu com ele pode acontecer conosco.

Davi é um exemplo de inscontância humana como talvez nenhum outro personagem na Palavra. Foi guerreiro implacável e na força de Deus derrotou o gigante Filisteu. Por outro lado adulterou com Bate-Seba e traiu Urias, um de seus leais soldados. Reconstruiu Jerusalém que passou a ser chamada cidade de Davi, porém magoou seus filhos e foi um desastre como pai. Era temente ao Senhor e foi chamado homem segundo o coração de Deus, entretanto, em sua família houve incesto, assassinato, mentiras e traição. Talvez a inconstância tenha sido uma das principais marcas da trajetória deste servo de Deus.

Entre montanhas e vales ele chegou a um dia, dentre tantos, que o tomou por completo e exaustivo desânimo. No retorno de uma cansativa batalha, ele encontrou Ziclague, a cidade que habitava, saqueada e destruída. Todas as mulheres e crianças haviam sido levadas cativas. A cidade era um monturo de cinzas. Seus homens e amigos leais, agora amargurados, falavam em apedrejá-lo. E ali se encontra Davi, caído, sem consolo e esperança vendo suas forças faltarem. Não apenas forças físicas, mas as forças da alma. Talvez tenha sido um dos raros momentos em sua história que ele se enxerga sem ação.

Mas algo inesperado acontece com aquele homem caído. Diz a Palavra que “Davi se reanimou no Senhor seu Deus”. Esta frase, encontrada no primeiro livro de Samuel, capítulo 30, verso 6, revela-nos uma das mais poderosas ações de Deus na vida de seus filhos: levantar-nos quando tudo parece perdido; abrir o caminho quando não sabemos para onde ir; dar-nos perseverança quando a vontade é parar.

O que mais me intriga é que este “reânimo” veio absolutamente do Senhor, pois não havia ali elementos de esperança. Seu coração fraquejou, seus amigos lhe faltaram, as forças físicas estavam consumidas. Porém, ali, ele “se reanimou no Senhor seu Deus”.

E, reanimado, se levantou. Davi perseguiu os amalequitas com alguns de seus homens, tomou de volta as mulheres e crianças e ainda o despojo que partilhou entre todos. Reconstruiu a cidade e habitou nela. Recuperou o respeito de seus homens com o brilho de quem um dia iria reinar sobre todo Israel.

O reânimo é uma experiência íntima e profunda, que se passa de forma diferente na caminhada de cada um. Se os cenários de nossas vidas são distintos, bem como aquilo que nos abate, a fonte do nosso reânimo é a mesma: o Senhor nosso Deus.

Percebo que os conflitos relacionais e a crítica interpessoal são dois frequentes causadores de profundo abatimento de espírito. Perante estes, muitos gigantes da fé já foram nocauteados e perderam o fôlego. Se é este o seu caso talvez você se sinta, de alguma forma, como Davi naquele dia. Após voltar de uma batalha em que lutou lado a lado com seus homens, e juntos prevaleceram, agora estes falam em apredrejar-lhe. A crítica possui a capacidade de gerar ansiedade crônica na alma humana. Se não for tratada, ela passa a ser o seu último pensamento ao dormir e o primeiro ao acordar. Ela faz o seu coração disparar perante a simples lembrança do comentário que foi lançado contra você. Talvez um dos instrumentos de maior abatimento nas relações humanas seja, justamente, a crítica. Perante ela há uma escolha – infeliz – de alimentar o rancor no coração e jamais se esquecer. Isto o levará a uma trilha na qual você perderá a brandura e o amor. Você não será mais o mesmo. A outra escolha – feliz – é de entregar ao Senhor aquilo que você não pode resolver, responder ou apagar... e descansar. A reação do Alto será a mesma que visitou Moisés no deserto, Elias na caverna e Davi em Ziclague: Deus o reanimará.

É preciso lembrar que o Senhor nos criou com corações ensináveis. Assim, devemos sempre nos lembrar daquilo que nos traz esperança. A esperança cura a alma e prepara o espírito para o que Deus fará. Podemos a cada dia orar pedindo que nossa vida não se torne um poço de ressentimentos, que não fiquemos para sempre caídos, que o desânimo – seja físico, emocional ou espiritual – não nos derrote. Podemos rogar que aquilo que - de forma fantástica - aconteceu com Davi em Ziclague, aconteça também conosco: sermos reanimados pelo Senhor nosso Deus!
__________
Ronaldo Lidório, doutor em antropologia, é missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais e da Missão AMEM. É organizador de A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual

http://www.ultimato.com.br/conteudo/carta-aos-desanimados

Tuesday, November 22, 2011

A LETRA "P"

"Apenas a língua portuguesa nos permite escrever isso..."
O homem que escreveu isso deve ser um gênio da língua portuguesa!!!


Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas,
paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar
panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder
progredir.

Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para
Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres.
Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas,
porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.
Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir
permissão para Papai para permanecer praticando pinturas, preferindo,
portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois
pretendia pintá-los.

Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos,
preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam
precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas
picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas
perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes
potrancas. Pisando Paris, permissão para pintar palácios pomposos,
procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria
percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro
Paulo precaver-se.
Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir
pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando
profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente
para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir
para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando
principais portos portugueses. Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.

Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir.
Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai
Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu
prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para
prosseguir praticando pinturas.
Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo
permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio
puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar
pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou
perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? Papai proferiu
Pedro Paulo, pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei
procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois
pretendo permanecer por Portugal.

Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando
pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo
para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte
precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando.
Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo,
pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois
pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro.
Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo
próximo, pedreiro profissional perfeito.

Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para
Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo
pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois
precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo
preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois
precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo Pereceu
pintando... '
Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar
para pensar... Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, pronto
pararei.


E você ainda se acha o máximo quando consegue dizer:
'O Rato Roeu a Rica Roupa do Rei de Roma.'?

Wednesday, September 28, 2011

O Código Q

QAP - Permanecer na Escuta (Frequencia)
QAR - Autorizacao para Abandonar a Escuta
QRA - Nome do Operador
QRB - Distancia entre as estacoes
QRE - A que horas calcula chegar ao destino ?
QRG - Frequencia Operativa
QRH - Oscilacoes de Sinais
QRI - Tonalidade de Transmissao
QRK - Legibilidade de Sinais:
QRK1- Ilegivel
QRK2 - Legivel, mas com interferencia
QRK3 - Legivel com Dificuldades
QRK4 - Legivel
QRK5 - Perfeitamente Legivel
QRL - Frequencia Ocupada
QRM - Interferencia por outra estacao (ruidos)
QRN - Interferencia Estatica (Ruidos Atmosfericos)
QRO - Aumentar a Potencia
QRP - Diminuir a Potencia
QRQ - Modular mais depressa
QRS - Modular mais devagar
QRT - Encerar Transmissoes
QRV - Estar a disposicao
QRW - Devo avisar "fulano" que voce esta chamando
QRX - Aguardar na frequencia
QRY - Qdo e minha vez de transmitir
QRZ - Quem me chama
QSA - Intensidade dos sinais:
QSA1 - Apenas perceptivel
QSA2 - Muito Fraco
QSA3 - Um tanto Fraca
QSA4 - Boa
QSA5 - Otima
QSB - Existe Oscilacao nos Sinais
QSD - Transmissao Defeituosa
QSL - Entendido, Compreendido
QSM - Repita novamente o ultimo contato
QSO - Contato entre estacoes
QSP - Retransmissao de Mensagem
QSY - Mudar de Frequencia
QSZ - Repetir as ultimas palavras ou letras
QTA - Cancelar mensagem anterior
QTC - Mensagem de grande importancia ou emergencia
QTH - Localizacao
QTI - Qual e seu destino
QTO - Sanitario
QTR - Hora Certa
QTS - Transmitir seu indicativo
TKS - Grato

A ::: Alfa
B ::: Bravo
C ::: Charlie
D ::: Delta
E ::: Echo
F ::: Fox
G ::: Golf
H ::: Hotel
I ::: Índia
J ::: Juliet
K ::: Kilo
L ::: Lima
M ::: Mike
N ::: November
O ::: Oscar
P ::: Papa
Q ::: Quebec
R ::: Romeu
S ::: Sierra
T ::: Tango
U ::: Uniform
V ::: Victor
W ::: Whiskey
X ::: X-Ray
Y ::: Yankee
Z ::: Zulu

.:: Numerais ::.

1 ::: Primeiro
2 ::: Segundo
3 ::: Terceiro
4 ::: Quarto
5 ::: Quinto
6 ::: Sexto
7 ::: Sétimo
8 ::: Oitavo
9 ::: Nono
0 ::: Nulo / Negativo

Tuesday, September 13, 2011

Análise Da Obra 'Raízes Do Brasil', De Sérgio Buarque De Holanda


Autor: André Vinicius Mossate Jobim

1. Resumo da obra

Raízes do Brasil, obra símbolo de uma época, foi publicada em 1936 sob a autoria de Sérgio Buarque de Holanda, quando ainda não era o “pai do Chico”. O livro, curto, claro, discreto e objetivo, divide-se em sete capítulos que, juntos, teorizam sobre nossa formação histórica e social.

O capítulo 1 caracteriza a Península Ibérica assinalando que o seu desenvolvimento, por se dar em um território fronteiriço, não ocorreu da mesma forma que em outros países europeus. Esse fato deu à região uma série de características peculiares, que seriam trazidas ao Brasil no bojo das grandes conquistas marítimas. Entre esses aspectos singulares estava a cultura da personalidade, na qual o apego pelo prestígio pessoal resultava na ausência de uma moral de culto ao trabalho, diferente dos países protestantes. Daí teria origem uma outra característica importante: a fraqueza das instituições e falta de organização social. Em contrapartida, o fato de os hispânicos não conceberem uma disciplina baseada em consentimento coletivo, gerava entre eles um paradoxal senso de obediência.

No capítulo 2, seguindo o paradigma das tipologias weberianas, são construídos os modelos do trabalhador e do aventureiro. O primeiro, único que poderia colonizar o Brasil justamente por possuir uma excepcional adaptabilidade, caracterizava-se por buscar novas experiências, ignorar fronteiras e viver de horizontes distantes. Já o segundo era marcado pelo esforço persistente, por conseguir tirar proveito das insignificâncias e ver antes a parte que o todo. A grande lavoura, principal unidade produtiva da colônia, se constituiu não com base em um plano preconcebido pelos portugueses, mas sim ao sabor das condições primitivas do meio. O uso de escravos foi a forma escolhida para o trabalho, o que também se adequava à repulsa lusitana pela atividade manual e contribuía para diminuir ainda mais a necessidade de cooperação entre os conquistadores.

Herança colonial, o capítulo 3, tematiza a estrutura rural da sociedade colonial. O declínio da mesma se deu a partir de 1850 em função do fim do tráfico escravo, que era sua base de sustentação desde o século XVI. Nesse contexto, se estabelece uma nova dicotomia, a relação rural-urbano, que se manifesta igualmente no universo mental, onde a visão de mundo tradicional entra em conflito com valores modernos. O malogro de Mauá, em tempos onde o patriarcalismo e o personalismo eram hegemônicos, aponta para a incompatibilidade das estruturas nacionais com as práticas mais “industrializantes”. Aqui, a fazenda, vinculada a uma idéia de nobreza, ainda predomina sobre a cidade.

Estreitamente ligado ao capítulo anterior, “O semeador e o ladrilhador”, um dos mais brilhantes do livro, estabelece uma nova oposição. O espanhol, ou o ladrilhador, se caracterizava por tornar suas cidades um exemplo de racionalidade, onde a linha reta obtinha o triunfo. O semeador, ao contrário, representava o português, aferrado ao litoral, que construía cidades irregulares, nascidas e crescidas sem o mínimo planejamento. A origem desses traços lusitanos era explicada pelo seu desejo de fazer fortuna rápida, dispensando o trabalho regular.

O quinto capítulo, um dos mais discutidos, aborda alguns elementos que definiriam (não de forma absoluta) a identidade nacional. Apropriando-se de um conceito de Ribeiro Couto[1], Sérgio Buarque afirma que o "homem cordial" é resultado da cultura patrimonialista e personalista própria da sociedade brasileira. A nossa cordialidade enfatizava o predomínio de relações humanas mais simples e diretas que rejeitavam a polidez e a padronização, características da civilidade. A dificuldade de constituição de um Estado “civil” brasileiro se expressava no fato de que essa instituição não era (e não é) um prolongamento da família. A hegemonia de valores familiares e patriarcais, vinculadas também ao homem cordial, impedem uma distinção clara entre a noção de público e privado.

O sexto capítulo debate as consequências da presença lusitana na configuração da sociedade brasileira, a partir da vinda da família real para o Brasil. Apesar do choque causado aos velhos padrões coloniais, a permanência do personalismo português determina alguns traços da nossa intelectualidade, ou seja, o conhecimento (superficial) era importante apenas na medida em que dava prestígio e diferenciação. O apego às idéias fixas e simplórias facilitava o trânsito do positivismo entre nossos pensadores. A decorrência disso na vida política correspondeu à ausência de um espírito democrático, demonstrando a necessidade de transformar o paradigma dos movimentos reformistas, feitos, até então, somente de cima pra baixo.

O sentido marcadamente político da obra aparece em “Nossa revolução”, onde o autor demonstra a diferença das revoluções ocorridas aqui na América em comparação com os movimentos europeus. E no caso brasileiro, apesar do urbano ir assumindo a sua independência em face do rural, esse processo ainda não está completo. Somente quando aniquilarmos as raízes ibéricas de nossa cultura e propiciarmos a emergência das outras camadas sociais, aí sim teríamos finalmente concluído a nossa “revolução”. É evidente, nos alerta Sérgio Buarque, que ao ocorrer esse processo, as resistências conservadoras poderão surgir, no entanto, ainda podemos acreditar que uma democracia efetiva se concretize na América Latina. E é pela defesa desse ideal que o caráter político de Raízes do Brasil salta aos olhos em seu último capítulo, finalizando um trabalho de peso na nossa historiografia.


2. Biobibliografia

Nascido em 11 de julho de 1902, em São Paulo, Sérgio Buarque de Holanda viveu sua infância e uma parte de sua juventude nessa cidade. Seus pais eram Cristóvão Buarque de Holanda, funcionário público, e Heloísa Gonçalves Moreira.

Desde muito cedo, apaixonado pela leitura, adquiriu o hábito de anotar suas impressões daquilo que lia. Ainda jovem estudante tomou contato com os escritos dos velhos cronistas portugueses, que o fascinavam principalmente pela linguagem bonita, exata e incisiva.[2] Essa seria, mais tarde, uma das características da sua própria produção. Além dos clássicos portugueses, vai se aproximar de autores estrangeiros, enriquecendo ainda mais seu universo verbal. De acordo com depoimentos de personagens do movimento modernista, Sérgio, apesar de ser um dos mais novos, era um dos mais informados entre todos..

Afonso de Taunay, seu professor, ao ter acesso a alguns escritos do aluno, abriu espaço para a publicação de um artigo seu no jornal Correio Paulistano, quando ele tinha apenas dezoito anos. Defendia, já nesse artigo, dando eco ao nacionalismo que repercutia no clima de pós-guerra, a necessidade de uma literatura verdadeiramente nacional. Entre seus amigos em São Paulo destacavam-se Guilherme de Almeida, Sérgio Millet, Mario de Andrade e Oswald de Andrade.

O ano de 1921 foi marcante. Sérgio mudou-se com a família para o Rio de Janeiro e ingressou na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, onde se formou em 1925. Dessa época nascem outras duas grandes amizades: Prudente de Moraes, neto, e Afonso Arinos de Melo Franco. Conheceu também Graça Aranha, idealizador da Semana da Arte Moderna, Manuel Bandeira, Di Cavalcanti e Ronald de Carvalho. A convivência de Sérgio com esses artistas, poetas e intelectuais foi fundamental para entendermos a sua relação com o movimento modernista. Nesses tempos iniciou sua colaboração ao Rio-Jornal com crônicas e entrevistas. Também passou a publicar na Revista do Brasil, dirigida por Monteiro Lobato, e em O Jornal. A essa altura, o curso de direito pouco o interessava. Como forma de conquistar estabilidade financeira, ingressou na Agência Havas, sob o comando de Assis Chateaubriand, como tradutor de telegramas em inglês.

Em 1922, ano de intensa agitação representada pela organização da Semana da Arte Moderna, a fundação do PCB, o centenário da independência e a sucessão presidencial, Sérgio assume sua identidade modernista ao dirigir no Rio de Janeiro a primeira revista ligada ao movimento, intitulada Klaxon (1922-1923). O objetivo geral desse grupo era lutar contra o academicismo da nossa literatura, ainda muito ligada aos padrões europeus, e construir no Brasil uma nova identidade nacional.

Em 1924, ao lado do amigo Prudente de Moraes neto, fundou a revista modernista Estética, que também teve vida breve (1924-1925). Após conflitos internos dentro do movimento, Sérgio partiu, em 1926, para uma temporada no Espírito Santo para dirigir o jornal O Progresso. Na volta, retomou o trabalho na United Press e no Jornal do Brasil. Em 1929, atendendo a um convite de Chateaubriand, transferiu-se para o continente europeu com o propósito de visitar Alemanha, Polônia e Rússia, e escrever sobre a situação daquele continente para o Diário de São Paulo, O Jornal e Agência Internacional de Notícias.

Fixado em Berlim, teve a oportunidade de assistir aulas do historiador Friedrich Meinecke[3] e ler Weber e Rilke[4]. Esse fato foi de suma importância na escrita de Raízes do Brasil, que já vinha sendo pensado antes da ida à Europa e possuía o nome de Teoria da América. Na Alemanha colaborou com a revista Duco, da embaixada brasileira, e traduziu roteiros de filmes, um deles estrelados por Marlene Dietrich. Sua estada também lhe permitiu entrevistar Thomas Mann e testemunhar o surgimento do nazismo. Com o fechamento da revista Duco, voltou ao Brasil em 1930.

Os anos trinta, marcados pelo movimento liderado por Getúlio, pela ascensão dos regimes totalitários, pela expansão do comunismo e pela Revolta Constitucionalista, também são significativos na vida de Sérgio Buarque. Depois de publicar seu primeiro conto em 1931, é preso em 1932 pelo governo por defender São Paulo na questão da constituição. Nessa época passa a dar maior interesse à história em detrimento da ficção e da poesia, fato que certamente tem relações com o seu tempo na Alemanha. De lá trouxe dois capítulos de Raízes do Brasil, afirmando que os escreveu sob forte influência do sociólogo alemão Max Weber. A publicação da obra data do ano de 1936, momento posterior ao levante de 1935, e a criação de uma série de medidas governamentais que atendiam a algumas demandas das classes populares. O livro, de certa forma, reflete esse aparecimento das classes sociais, pois nele há um claro combate às velhas oligarquias e o desejo de ver o Brasil organizado em novas estruturas. Além disso, também estabelece uma crítica objetiva à democracia liberal, questionada mundialmente depois de 1929. É dentro desse panorama que Raízes do Brasil deve ser contextualizado.

Ainda nesse ano passa a dar aulas na universidade do Distrito Federal até 1939. Depois das aulas, passou a dirigir, durante o Estado Novo, o Instituto Nacional do Livro e a fazer suas críticas literárias no Diário de Notícias e no Diário Carioca. Em 1944, os ensaios escritos para esses veículos foram reunidos e publicados sob o título de Cobra de Vidro.

Com o fim do regime varguista, atuou na fundação da Esquerda Democrática, mais tarde Partido Socialista, e foi eleito presidente da seção do Distrito Federal da Associação Brasileira de Escritores. Em 1946, voltando à cidade de origem, foi designado para o cargo de Diretor do Museu Paulista, atividade que desenvolveu até 1956. Ainda em 1949 esteve novamente na Europa, com palestras sobre o Brasil na Sorbonne. Em 1952 seguiu com a família para a Itália por dois anos para atuar como professor na Universidade de Roma. Voltou em 1957, ano da publicação de Caminhos e Fronteiras. Em 1958 assumiu a cátedra de História da Civilização Brasileira, na USP, defendendo a tese que logo adiante se tornaria um novo livro: Visão do Paraíso, visto por alguns como obra precursora da história cultural no Brasil.[5]

De 1963 a 1966 vai ao Chile, EUA, Peru e Costa Rica, sempre na qualidade de professor convidado. Em função do AI-5, em 1969, deixa a USP em solidariedade a alguns de seus colegas exilados. Mais tarde, como bom modernista, recusou o convite para fazer parte da Academia Brasileira de Letras, pois dizia que não tinha a ver com sua personalidade. Durante os anos setenta, ganhou alguns prêmios literários e ajudou a fundar, ao lado de Oscar Niemayer o Centro Brasil Democrático, na linha de combate à ditadura. No fim da vida publicou Tentativas de Mitologia, em 1979. O seu ato derradeiro foi tornar-se membro fundador do PT em 1980. Antes de completar 80 anos, falece em 24 de abril de 1982, em São Paulo. Por fim, cabe concluir que certamente Sérgio Buarque de Holanda não foi uma figura humana qualquer, pois, além de ter levado uma vida cosmopolita e de ser um erudito no melhor sentido da palavra, também era o “pai do Chico”.

Obras: Antologia dos poetas brasileiros da fase colonial. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1952; Caminhos e fronteiras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957; Cobra de vidro. São Paulo: Martins Editora, 1944; Elementos básicos da nacionalidade. Rio de Janeiro: Escola Superior de Guerra, 1967; Expansão paulista em fins do século XVI e princípio do século XVII. São Paulo: Instituto da Administração da USP, 1948; O extremo Oeste. São Paulo: Brasiliense, 1986; Monções. Rio de Janeiro: Caso do Estudante do Brasil, 1945; Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936; Tentativas de mitologia. São Paulo: Perspectiva, 1979; Visão do Paraíso. Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil.Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.


3. Problematização

Delimitar as grandes questões levantadas por uma obra do porte de Raízes do Brasil é um exercício de difícil concretização. Deixando de lado os resmungos, entendo que, dentro dos marcos da historiografia contemporânea, a obra antecipa, centrada em outros conceitos como patriarcalismo e personalismo, uma discussão fundamental sobre o que hoje se compreende como clientelismo. Atualmente o brasilianista Richard Graham tem se debruçado sobre a questão, que tratou mais detidamente em Clientelismo e política no Brasil do século XIX. Nela, o clientelismo surge como um sistema que tende a consolidar a supremacia dos proprietários de terra articulada ao poder central através das eleições fundadas nas relações pessoais (entre o patrão e o cliente) que tornam nublados as diferenças entre o “público” e o “privado”. Para Graham, o clientelismo tinha suas origens ainda no período colonial.

A teorização de Sérgio Buarque de Holanda, iniciada a partir das relações personalistas que caracterizam a presença lusitana no Brasil, reflete exatamente sobre essas origens. Como ele mesmo afirma: “o tipo primitivo de família patriarcal existente no Brasil tornava difícil aos detentores das posições públicas, formados em tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e do público” (p. 145).

Tais traços, afirma Sérgio, ainda não foram superados, pois essas “sobrevivências arcaicas, o nosso estatuto de país independente até hoje não conseguiu extirpar” (p. 180). A argúcia dessa percepção pode ser utilizada até o presente, pois certamente ainda convivemos com essa realidade. O que dizer de casos de nepotismo ou de uso de dinheiro público em benefício pessoal, tão banais na nossa política?

No campo da historiografia, apesar de empreender uma análise histórico-psicológica, o autor consegue captar um aspecto típico da chamada história das mentalidades, que ganhará destaque nos anos sessenta, ou seja, um elemento que pertence ao campo do estrutural, da longa duração: “A influencia dessa colonização litorânea, que praticavam, de preferência, os portugueses, ainda persiste até nossos dias. Quando hoje se fala em “interior”, pensa-se, como no século XVI, em região escassamente povoada e apenas atingida pela cultura urbana” (p. 101).

Um segundo ponto que considero de extrema relevância na obra é a utilização do conceito weberiano de tipo ideal, que, de forma geral, seria a construção ideal de como se desenvolveria uma forma particular de ação social se ela fosse feita racionalmente em direção a um fim. Nesse sentido, o tipo ideal é um conceito vazio de conteúdo real que procura servir de horizonte para uma comparação com os fenômenos históricos. Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque traduz essa metodologia através de um mapeamento dos pares antagônicos como, por exemplo, o trabalhador e o aventureiro, o rural e o urbano, o impessoal e o afetivo, etc. Como foi afirmado, essas tipificações são ideais. O autor nos alerta que elas não “possuem existência real fora do mundo das idéias” (p. 44/45).

Outro elemento levantado, ainda dentro da ótica weberiana, é a utilização, por meio de uma metodologia comparativa, dos conceitos de patrimonialismo e burocracia para analisar o Estado brasileiro e constatar que este não se enquadra no modelo estatal elaborado pelo sociólogo alemão: “para o funcionário patrimonial, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere-se relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem as especializações das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos” (p. 146).

Ao que parece, muito mais inovador que o uso desses instrumentos para a análise de nossa formação histórica e social, é o fato de, até os anos trinta, Sérgio Buarque ter sido o primeiro a empreender uma tentativa de aplicar os conceitos de Max Weber dentro da historiografia brasileira.

Mais uma grande questão que se evidencia em Raízes do Brasil é a presença de elementos modernistas na obra. A crítica ferrenha elaborada por Sérgio à intelectualidade brasileira, é produto do contexto literário modernista em que estava inserido. Quando ele afirma que: “é freqüente, entre os brasileiros que se presumem intelectuais, a facilidade com que se alimentam, ao mesmo tempo, de doutrinas dos mais variados matizes e com que sustentam, simultaneamente, as convicções mais díspares” (p. 155), coloca em questão o próprio exercício da atividade intelectual, que até então se preocupava apenas com as reflexões vindas de fora, sem pensar o Brasil a partir da sua própria cultura. E essa aproximação com a nossa nacionalidade, exigência dos “modernos”, estava relacionada com a busca por uma identificação do novo intelectual com a cultura popular.[6] No que tange à necessidade moderna de construir um sentimento de brasilidade, desligado da visão de mundo puramente européia, Sérgio Buarque foi um dos primeiros a dizer claramente que “o próprio povo brasileiro tinha de assumir as rédeas do seu destino”,[7] aniquilando as suas raízes ibéricas, exacerbando assim um claro traço nacionalista.

Até então, mesmo os pensadores mais abertos e avançados viam a solução na liderança esclarecida das elites, que seriam as únicas em condições de orientar e guiar um povo pobre, ignorante, oprimido, incapaz de se dirigir. Raízes do Brasil rompia as ilusões liberais, atribuindo à massa do povo a capacidade de iniciativa e criatividade política. Por isso, a sua leitura correta mostra que além de ser uma teoria geral do Brasil, ele é um momento alto do nosso pensamento radical.[8]

O caráter histórico e não absoluto de algumas de suas afirmações também chamam a atenção. A influência recebida pela Escola Histórica Alemã, enquanto esteve na Europa, repercutem na obra em contraposição às visões positivistas sobre ciência. Para o historicismo, a relação entre as palavras e a realidade era uma questão de interpretação e não de dedução, daí o cuidado de Sérgio com a utilização dos conceitos. Como ele mesmo afirma: “a história digna de tal nome, justamente porque quer exprimir a verdade, requer acurado trabalho de redação e elaboração, que dificilmente admite linguagem desleixada”. Para ele, “mais valia a empatia do que a exorbitância de um raciocínio discursivo, intelectualismos, critérios puramente abstratos, tendências esquematizadoras. Como instrumento de conhecimento do historiador era preciso a todo o custo nuançar conceitos, ajustar palavras; mais do que o rigor analítico, cabia ao historiador cultivar certa inteligência da sensibilidade”.[9] E esse dado realmente é patente em sua obra, e salta aos olhos quando comparados com o livro anterior, de Caio Prado Jr.

Outra parte da argumentação de Sérgio Buarque está direcionada contra alguns preceitos da ciência positiva, ainda dominante nos anos trinta. Nesse caso, o nosso autor, contrariando determinadas explicações “históricas”, valoriza o cultural no seu sentido social em detrimento das explicações biológicas: “se semelhantes características predominaram com notável constância entre os povos ibéricos, não vale isso dizer que provenham de alguma inelutável fatalidade biológica ou que, como as estrelas do céu, pudessem subsistir à margem e à distancia das condições de vida terrena” (p. 36). Sobre isso, é importante ressaltar que o seu respaldo teórico também passava pelo conhecimento da nova história social francesa[10], que, no Brasil, iria ganhar maior visibilidade apenas nos anos oitenta! Talvez, por isso, Sérgio seja visto como precursor da nossa história cultural.

Outro ponto importante refere-se à valorização do indígena como elemento constituinte de nossa cultura, e não como uma deformação ou problema. A sua descrição sobre as trilhas terrestres construídas pelos indígenas, aponta para a contribuição decisiva desses na expansão das bandeiras ao interior do país. Além desse fator, também é destacado o uso da linguagem tupi como forma de comunicação, da qual os traços ainda persistem nos dias de hoje em nosso vocabulário. Evidencia-se, desse modo, a grande porta que Sérgio Buarque, ao lado de Gilberto Freyre, abre aos estudos da cultura no Brasil.

Para finalizar, talvez um dos temas mais discutidos, não tanto no campo da história mas no das ciências sociais em geral, ou mais especificamente da antropologia, é a tese sobre o homem cordial. Formado dentro dos quadros de uma estrutura familiar de herança lusitana, o brasileiro teria se caracterizado pelo desapego com aquilo que é formal, pela dificuldade em cumprir os ritos sociais que não sejam pessoais e afetivos, e de separar racionalmente as diferenças entre o público e o privado. Afirma Sérgio Buarque: “a lhaneza no trato, a hospitalidade, e generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo – ela pode exprimir-se em mandamentos e sentenças” (p. 147). Entende-se, então, essa cordialidade não como concórdia, subserviência ou bondade, como pretendeu interpretar Cassiano Ricardo, mas talvez como uma certa passionalidade, como predomínio de uma ação menos polida, menos racionalizada e mais próxima do emocional. Esses traços se manifestam de outras formas, como afirma o próprio autor: o nosso vocabulário é inundado pelo emprego de palavras no diminutivo. Isso também se exemplifica na religião. O brasileiro possui uma relação profundamente pessoal com os seus santos, para o qual pede proteção e benefícios individuais. Portanto, é um equívoco compreender esse homem cordial como indivíduo bondoso ou algo semelhante.

Convém dizer também que esse traço não é absoluto. Em resposta à Cassiano Ricardo, um dos próceres do governo varguista, que procurava alimentar uma imagem positiva do brasileiro, Sérgio Buarque afirma, em 1948, que: "quero frisar, ainda uma vez, que a própria cordialidade não me parece virtude definitiva e cabal que tenha de prevalecer independentemente das circunstâncias mutáveis de nossa existência. Acredito que ao menos na segunda edição do meu livro, tenha deixado esse ponto bastante claro. Associo-a antes a condições particulares de nossa vida rural e colonial, que vamos rapidamente superando. Com a progressiva urbanização, que não consiste apenas no desenvolvimento das metrópoles, mas ainda e sobretudo na incorporação de áreas cada vez mais extensas à esfera da influência metropolitana, o homem cordial se acha fadado provavelmente a desaparecer, onde ainda não desapareceu de todo". Como é possível perceber, a cordialidade, apesar de ser um forte elemento do caráter nacional, não é a-histórico e pode se modificar de acordo com as circunstâncias.[11]

Nos anos oitenta, Roberta da Matta, importante antropólogo brasileiro, retoma as reflexões de Sérgio Buarque de Holanda em seu ensaio O que faz o Brasil, Brasil?, de 1984. Na sua análise da rua como espaço público e impessoal, da Matta recoloca a questão da casa como espaço privado por excelência em contraposição a essa rua, que é de todos e ao mesmo tempo de ninguém, portanto, espaço de desiguais. O fato é que tanto historiadores quanto antropólogos criticaram Sérgio Buarque e o próprio da Matta. Atualmente, compreender o “caráter” de um povo nos parece um tanto inadequado. Entretanto, entendo que as críticas devem ser feitas respeitando o contexto em que cada obra se coloca. No caso de Sérgio, a sociologia dos anos trinta ainda estava amplamente referenciada nas noções mais generalizantes, e esse dado tem que ser levado em conta para a sua análise. Erra Voltaire Schilling[12] ao afirmar que a cordialidade, para o nosso autor, é inata ao homem brasileiro. Anteriormente já foi possível observar que Sérgio Buarque trata do conceito como algo mutável, e não eterno, denotando a historicidade da sua reflexão.

Agora, efetivamente encerrando, saliento que em nenhum momento se desejou aqui dar conta de todas as questões levantadas por Raízes do Brasil, que como vimos, ultrapassam a simples discussão historiográfica. O que fiz foi trazer elementos que interpretei como importantes a partir do meu ponto de vista, e que entendi serem significativos para o presente trabalho. Espero, realmente, que este esforço sirva não só para clarificar o debate sobre Raízes do Brasil, mas sim incentivar outros a tomar contato com a obra e produzirem a sua própria crítica a esse marco da historiografia brasileira.


4. Avaliação pessoal da obra

Prazer. Essa é a palavra que expressa meu sentimento ao terminar a leitura Raízes do Brasil. Há tempos ouvia falar dela, mas, por um ou outro motivo, não a lia. O trabalho estético da escrita de Sérgio Buarque certamente chama a atenção em meio a tantos historiadores que não sabem produzir um bom texto.

Para além dessa impressão puramente subjetiva, avalio que o autor se destaca pela capacidade de estabelecer relações significativas entre o passado e o presente. A atualidade da obra é impressionante. A democracia no Brasil, depois de longos setenta anos, continua sendo um “lamentável mal-entendido” (p. 160). O país ainda reclama da “ausência de verdadeiros partidos políticos” (p. 183). A produção anual de toneladas de leis, mostra de forma cabal que grande parte de nossos políticos ainda acredita que “a letra morta pode influir por si só e de modo enérgico sobre o destino de um povo” (p. 178). Essas referências só me levam a concordar com o que disse Antônio Cândido: “Raízes do Brasil é um dos momentos mais importantes do pensamento radical no Brasil”.[13] Como sugestão, indicaria a nossos representantes darem uma folheada nessa obra.

Confesso que minha crítica mais contundente não é tão contundente assim. Apenas interpreto que, nos poucos momentos que o autor se refere aos negros escravos, ainda os apresenta de uma forma estereotipada, realçando características como “suavidade dengosa e açucarada”. Menos mal que não os apresenta como seres inferiores, tão comum a determinadas teorias da época que viam no europeu uma raça “superior”.

Também tenho minhas restrições ao autor quando ele procura justificativas para afirmar que pode haver compatibilidade entre o Brasil e os ideais democráticos. Uma dessas justificativas está no fato de que, no país, há uma “relativa inconsistência dos preconceitos de raça e cor”. Sabemos nós dessa falácia. O racismo no Brasil existe e talvez seja muito mais sutil do que conseguimos perceber. Talvez por isso alguns interpretem que aqui exista um preconceito mais “abrandado” contra o negro.

Obviamente que, levando em conta as muitas idéias que se apresentavam nos anos trinta, as minhas críticas tem que ser relativizadas e colocadas no seu próprio tempo, isto é, século XXI. Naquele momento, a negação das idéias de inferioridade do negro aparecia como um grande avanço, mesmo que hoje elas ainda nos pareçam transmitir uma certa idealização da imagem negra. Talvez seja por isso que comentei antes que a minha crítica não pode ser vista como tão contundente.

Outro aspecto fundamental da obra refere-se ao seu caráter profundamente político, em especial o seu último capítulo. Nele, Sérgio Buarque se posiciona contra inúmeras situações. Contra aqueles que vêem as saídas de nossos problemas em idéias vindas de fora. Contra o aparelho político que nega a espontaneidade nacional. Contra a ilusão liberal democrática de simples substituição dos detentores do poder. Contra as constituições não cumpridas e as leis violadas para beneficiar indivíduos e oligarquias. Enfim, ele se posiciona. E posicionamento é uma coisa que uma boa parte de nossos intelectuais ainda desconhece. Mas para finalizar, Sérgio Buarque não se coloca apenas contra tudo. Ele clama para que o Brasil olhe para si mesmo e finalmente se torne o ator de sua própria história: “as formas superiores da sociedade devem ser como um contorno congênito a ela e dela inseparável: emergem continuamente das suas necessidades específicas e jamais das escolhas caprichosas” (p. 188).

Raciocínios profundos, densidade e objetividade na escrita, reflexões baseadas em elementos concretos e um posicionamento político bem definido. Está aí a reposta que darei àqueles que vierem me perguntar sobre por que ler Raízes da Brasil? E acrescentarei: “além de tudo, Sérgio Buarque também é o pai do Chico”.

5. Referências bibliográficas

DIAS, Maria Odila da Silva. Estilo e método na obra de Sérgio Buarque de Holanda. IN: NOGUEIRA, Arlinda Rocha; PACHECO, Floripes de Moura; PILNIK, Márcia; HORCH, Rosemarie Érika. Sérgio Buarque de Holanda: vida e obra. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura/Arquivo do Estado/USP/Instituto de Estudos Brasileiros, 1988.

GOLDMAN, Elisa. A Cultura Personalista como Herança Colonial em Raízes do Brasil. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/hist02a.htm. Acesso em: 20. abr. 2008.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

SCHILLING, Voltaire. BSérgio Buarque, o explicador dorasil. Educaterra. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2002/07/03/001.htm. Acesso em: 18. abr. 2008.

SOUZA, Antônio Candido de Mello e. Sérgio, o radical. IN: NOGUEIRA, Arlinda Rocha; PACHECO, Floripes de Moura; PILNIK, Márcia; HORCH, Rosemarie Érika. Sérgio Buarque de Holanda: vida e obra. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura/Arquivo do Estado/USP/Instituto de Estudos Brasileiros, 1988.

VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion. Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

VELLOSO, Mônica Pimenta. O modernismo e a questão nacional. In: DELGADO, Lucilia de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge. O Brasil republicano I. O tempo do liberalismo excludente: da proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.


6. Bibliografia complementar

BEUTTENMÜLLER, Alberto. Sérgio Buarque de Holanda: o homem cordial. Digestivo Cultural. Disponível em: http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=18. Acesso em: 23. abr. 2008.

SILVEIRA, Éder. Notas sobre Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda e Teoria do Medalhão, de Machado de Assis. Disponível em: www.unicamp.br/siarq/sbh/Silveria_Eder-Raizes_do_Brasil-e-Teoria_do_Medalhao.pdf. Acesso em: 22. abr. 2008.

[1] Ribeiro Couto, modernista, conhecido como o penumbrista por dizer que preferia as tardes de garoa às manhãs de sol, foi contista, romancista, jornalista, magistrado e diplomata. Nasceu em Santos, em 1898. Faleceu em Paris, em 1963.

[2] NOGUEIRA, Arlinda Rocha; PACHECO, Floripes de Moura; PILNIK, Márcia; HORCH, Rosemarie Érika. Sérgio Buarque de Holanda: vida e obra. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura/Arquivo do Estado/USP/Instituto de Estudos Brasileiros, 1988. p. 30.

[3] Historiador alemão nascido em Salzwedel (1862-1954), considerado um dos fundadores da historiografia moderna, junto com seu mestre Wilhelm Dilthey.

[4] Rainer Maria Rilke nasceu em Praga em 4 de dezembro de 1875. É considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, por sua obra inovadora e seu incomparável estilo lírico. Faleceu em 1926.

[5] VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Flamarion. Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997; p. 59.

[6] VELLOSO, Mônica Pimenta. O modernismo e a questão nacional. In: DELGADO, Lucilia de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge. O Brasil republicano I. O tempo do liberalismo excludente: da proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 320.

[7] SOUZA, Antônio Candido de Mello e. Sérgio, o radical. In: NOGUEIRA, Arlinda Rocha; PACHECO, Floripes de Moura; PILNIK, Márcia; HORCH, Rosemarie Érika. Sérgio Buarque de Holanda: vida e obra. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura/Arquivo do Estado/USP/Instituto de Estudos Brasileiros, 1988. p. 65.

[8] Ibid., p. 66.

[9] DIAS, Maria Odila da Silva. Estilo e método na obra de Sérgio Buarque de Holanda. IN: NOGUEIRA, Arlinda Rocha; PACHECO, Floripes de Moura; PILNIK, Márcia; HORCH, Rosemarie Érika. Sérgio Buarque de Holanda: vida e obra. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura/Arquivo do Estado/USP/Instituto de Estudos Brasileiros, 1988. p. 75.

[10] Essa afirmação pertence ao texto “O significado de Raízes do Brasil”, de Antônio Candido, apresentado como prefácio da última edição de Raízes do Brasil. Ver: p.10.

[11] GOLDMAN, Elisa. A Cultura Personalista como Herança Colonial em Raízes do Brasil. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/hist02a.htm. Acesso em: 20. abr. 2008.

[12] No espaço do seu site, Schilling assim escreve: “O próprio Sérgio Buarque, cujo centenário de nascimento comemora-se no dia 11 de julho, divertia-se com aquilo, comprovando assim a eficácia de uma das suas teses famosas: a da inata cordialidade do homem brasileiro”. Para o texto na íntegra, acessar: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2002/07/03/001.htm.

[13] SOUZA, loc. cit.

/literatura-artigos/analise-da-obra-raizes-do-brasil-de-sergio-buarque-de-holanda-896189.html

Pastor Marco Feliciano responde ao Bispo Macedo sobre acusações de que igrejas pentencostais parecem como terreiros de macumba. Leia na integra

O pastor Marco Feliciano usou seu site para responder ao vídeo que o bispo Edir Macedo publicou em seu blog questionando se há diferença entre os cultos pentecostais e cultos de religiões afros. O líder da Igreja Universal do Reino de Deus publicou uma montagem de vídeos dizendo que o chamado “cair no espírito” é semelhante a possessão demoníaca de centros espíritas.

Ao defender o pentecostalismo, Marco Feliciano, que inclusive aparece no vídeo postado por Macedo, tenta esclarecer que a maior diferença é que nos cultos pentecostais as pessoas são movidas pelo Espírito de Deus.

“Na questão dos cultos comparados pelo nobre Bispo, notamos sim semelhanças inúmeras, mas por que tanta semelhança? Vamos a explicação: O diabo tem poder isso é inegável, todavia Deus tem TODO o PODER!”, escreveu Feliciano que deu vários exemplos bíblicos de manifestações divinas que foram imitadas por magos e por pessoas possessas por espíritos malignos.

Respondendo a pergunta que dá nome ao vídeo de Macedo “Qual a Diferença?”, Feliciano diz que em primeiro lugar diferença é que nos cultos pentecostais o único Deus é adorado. “no nosso Adoramos ao Deus único e verdadeiro, no outro adoram a espíritos expulsos do céu que querem ser como deus, por isso imitam nosso culto”, escreve ele que se diz “pentecostal genuíno, criado no fogo de Jeová”.

Entre outras diferenças citadas pelo pastor da igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento estão: “no [culto] deles seus espíritos os chamam de cavalos, no nosso Deus nos chama de Ovelhas pois Ele é o eterno pastor do salmo 23; no nosso culto, tais manifestações geram vida, alegria, esperança, no outro as pessoas saem mais vazias e confusas do que quando chegaram;’no nosso ao terminar o culto, todos sabem o que aconteceu não tem duvidas! No deles as pessoas não sabem o que houve, ou onde estão, ou seja no nosso o Espírito que opera trabalha em conjunto com o homem no deles os espíritos dominam suas vontades”.
Integra da resposta do Pastor Marco Feliciano para o Bispo Edir Macedo

A pergunta feita pelo grande homem de Deus Bispo Macedo é pertinente. A falta do conhecimento e do discernimento podem levar alguns neófitos da fé a se escandalizarem, duvidarem e até criticarem renhidamente as manifestações sobrenaturais que ocorrem nos cultos pentecostais.

Ao assistir os vídeos “semelhantes” porém “diferentes”, pessoas que se assustaram, devem ter se esquecido da passagem bíblica que esta no Êxodo caps. 7 ao 11, as pragas que vieram sobre o Egito de Faraó.

A bíblia diz que alguns sinais produzidos por Moisés e Aarão, foram reproduzidos perfeitamente pelos magos de Faraó, tais como:

a) a vara de Aarão se transforma em serpente e os magos fazem o mesmo, a diferença é que a serpente de Aarão traga a serpente dos magos;
b) as águas se tornam m sangue, os magos fazem o mesmo sinal;
c) a praga das rãs foi reproduzida pelos magos de Faraó;

Qual a diferença entre os sinais de Aarão e Moisés e os sinais dos magos de Faraó?

No livro do Juizes um homem cheio do Espirito Santo cria uma força incrível e arranca portões. Nos evangelhos encontramos um homem cheio de espíritos malignos que quebra grilhões e as correntes.

Qual a diferença entre a força gerada em Sansão e a do gadareno?

No livro dos Reis uma mulher viu um profeta andando na terra e gritou: Verdadeiramente este é um homem de Deus. Em Atos uma mulher começou a seguir Paulo e Silas e dizia: “…Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo…Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu” At.16:17-18

Qual a diferença da revelação da viuva de Sarepta e da Mulher q Paulo repreende?

O profeta Samuel qdo encontra-se pela primeira vez com Saul lhe diz: “E o Espírito do SENHOR se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e tornar-te-ás um outro homem”. 1 Sam. 10:6 anos mais tarde Saul é possesso por um espirito maligno que Davi expulsa tocando sua harpa. O diabo viu Deus se apossar de Saul e na primeira oportunidade IMITA o feito de Deus.

Qual a diferença entre o Espirito q se apossa de Saul e o torna profeta e do espirito q Davi expulsa?

Em todos os casos que citei acima vemos semelhanças nas manifestações sobrenaturais, hora Deus, hora o adversário. A grande diferença é que os sinais divinos exaltam Deus e o sinais malignos fazem o diabo pensar ser um deus.

A bíblia diz que ele anda ao nosso derredor bradando como um leão mas não é um leão, na nossa vida só reconhecemos O Leão da Tribo de Juda!

Na questão dos cultos comparados pelo nobre Bispo, notamos sim semelhanças inúmeras, mas por que tanta semelhança? Vamos a explicação.

O diabo tem poder isso é inegável, todavia Deus tem TODO o PODER!

Quando o sobrenatural se apossa do natural, coisas fantásticas acontecem. Quando há união entre o metafísico e o físico o resultado é inexplicável. Ora, citei acima homens comuns com força sobrenatural, pessoas comuns recebendo revelações, gente de carne e osso operando grandes sinais.

Agora note que eu não citei A FONTE desse sobrenatural. Afinal pode vir de Deus ou do diabo pois ambos são seres espirituais, metafísicos, sobrehumanos.

Exemplo:

Deus se apossa de um homem e o enche de sabedoria e do Espirito Santo e tal homem funda uma igreja que cresce e se espalha pelo mundo e constrói templos e salva vidas. Vem o diabo e se apossa de um homem e o enche de ódio e de seu espirito maligno e tal homem funda uma seita que cresce e se espalha pelo mundo e destrói os templos cristãos, e mata vidas em nome de sua crença.

Qual a diferença entre os dois homens? Pois sabemos q ambos são dotados de algo diferente.

Quando o Espirito Santo desce em Atos 2, os presentes ficam tão cheios de poder e alegria que param a cidade inteira, que, afirmam que eles estão cheios de mosto, ou seja bêbados! Por que? Um bêbado é reconhecido pela forma como anda, fala, se porta. Chamaram nossos irmãos de bêbados, alguém viu a manifestação divina e falou: eu já vi isso em festas com muita cachaça… Aí Pedro grita: aqui nao tem ninguém bêbado, estão todos cheios do Espírito Santo!

A revista Veja em sua edição centenária disse que o movimento pentecostal naquele tempo contava com mais de meio bilhão de pentecostais no mundo. Só as Assembléias de Deus no Brasil possuem mais de 20 milhões de membros, tanto estes como aqueles já participaram de reuniões como esta postada pelo nobre Bispo onde pessoas pulam, gritam, saltam, fazem coreografias incompreensíveis, e são cheias do Espirito Santo, curadas e falam em outras línguas conforme o Espirito Santo lhes concedem. São pessoas simples, felizes, tementes, que amam a Deus, lêem a sua palavra e aguardam o retorno do Mestre para o grande advento do Arrebatamento!

Respondendo a pergunta do grande homem de Deus Bispo Macedo a quem respeito e admiro:

A diferença entre um culto e outro esta no plural:

a) no nosso Adoramos ao Deus único e verdadeiro, no outro adoram a espíritos expulsos do céu q querem ser como deus, por isso imitam nosso culto;

b) no deles seus espíritos os chamam de cavalos, no nosso Deus nos chama de Ovelhas pois Ele é o eterno pastor do salmo23;

c) no nosso culto, tais manifestações geram vida, alegria, esperança, no outro as pessoas saem mais vazias e confusas do q qdo chegaram;

d) no nosso ao terminar o culto, todos sabem o q aconteceu naontem duvidas! No deles as pessoas nao sabem o q houve, ou onde estão, ou seja no nosso o Espirito q opera trabalha em conjunto com o homem no deles os espíritos dominam suas vontades;

Portanto a diferença esta na Fonte do poder q se manifesta nestes cultos. E, como pentecostal genuíno, criado no fogo de Jeová, não tenho duvida alguma qual é a fonte das manifestações em nossos cultos pentecostais: Vem do único e verdadeiro Deus. Deus dos patriarcas, Deus dos profetas, Deus dos apóstolos, Deus desta linda, simples e poderosa igreja pentecostal, que deve ser respeitada!

Espero sinceramente q ninguém revidando, amado Bispo, coloque vídeos comparando os rituais dos cultos da santa igreja que lidera com seitas que também usam sal grosso, ramos de arruda, água benta, etc.

Um abraço em Cristo,

Pr. Marco Feliciano, seu conservo
Pastor presidente da Assembléia de Deus Catedral do Avivamento
Deputado Federal


http://noticias.gospelmais.com.br/pastor-marco-feliciano-responde-ao-bispo-macedo-sobre-acusacoes-de-que-igrejas-pentencostais-agem-como-terreiros-de-macumba.html