Omelete entrevista: Neill Blomkamp
Diretor da ficção científica fala sobre influências, Peter Jackson, a mensagem, os alienígenas...
21/10/2009 Érico Borgo
Peter Jackson escolheu um cineasta estreante, Neill Blomkamp, para dirigir a adaptação para as telonas da série de jogos eletrônicos Halo, da Microsoft. Com o colapso do projeto, porém, veio a ideia de realizar um longa-metragem inspirado no mundo que o sul-africano havia criado para o curta Alive in Joburg (veja ao final da entrevista). Nasceu assim Distrito 9 (District 9, 2009). Confira agora nossa entrevista com Blomkamp, que fala sobre influências, Peter Jackson, a mensagem na trama, os alienígenas...
Quais foram as sua maiores influências para realizar este longa? Kafka...
Kafka definitivamente é relevante, mas não de forma consciente. O elemento de transformação está presente, mas num nível muito subliminar. No mais, não posso apontar um filme ou livro como influência determinante. Foi, sim, um apanhado de ideias, especialmente de ficção-científica, jogadas num liquidificador e ambientadas na África do Sul.
Como foi colaborar com Peter Jackson?
A primeira coisa que Peter fez foi garantir que o filme aconteceria. Para mim, como diretor, teria sido impossível produzir este filme da maneira como ele saiu. Ele me disse: "Faça o que você quiser fazer". E também acho que ele criou um bom ambiente no dia-a-dia, me dizia se algo o preocupava. Sempre me dizia o que pensava. E estar com uma pessoa que tem tanta experiência é muito valioso. Tenho muita sorte.
A mensagem de conscientização implícita na trama foi intencional?
Acredito que uma coisa que estava na minha cabeça, por ser meu primeiro filme, era não fazer algo que parecesse um exercício de conscientização: "vejam como é ruim esta situação" ou algo do tipo. Não era essa minha intenção. Queria fazer um filme honesto e que parecesse real. Sabia que o ambiente ia gerar muitas perguntas. E também coincidiu que no dia em que começamos a filmar aconteceram atentados terroristas, como os assassinatos no Zimbabwe. Eu cresci em um ambiente de segregação entre brancos e negros. E a ideia de um racista passivo, que se vê obrigado a ficar do lado discriminado, é uma história atraente. Essa ideia sempre me pareceu muito interessante.
O que o formato de falso documentário te permitiu em termos de criação?
Esta ideia esteve presente desde o curta-metragem Alive in Joburg. E foi algo muito legal, que saiu dali organicamente. Claro que eu não o pensei assim, mas agora me parece que o curta foi uma espécie de ensaio. O filme nasceu inteiramente de conceitos e ideias visuais para gerar um sentimento de confusão: vi um documentário ou o quê? Mas documentários não são filmados assim. E daí, essencialmente, tive que romper com este gênero porque não funcionava isoladamente. Tivemos que colocar elementos mais "cinematográficos".
Para um filme de ficção científica até que Distrito 9 teve orçamento modesto (30 milhões). Como foi isso?
Em primeiro lugar, Sharlto [Copley, o protagonista] é muito barato [risos]. A parte de computação gráfica é a mais cara, mas como não tivemos grandes estrelas e filmar em Johannesburgo também é mais barato, o longa foi viabilizado. O mais caro e mais difícil foi fazer os alienígenas parecerem realistas. Ao conceitualizá-los como personagens, a primeira coisa que pensei foi em como fazê-los baratos de forma a limitar o tempo e os recursos de pesquisa.
Por que os aliens são parecidos com insetos?
A ideia veio da própria história: as pessoas se sentiam como insetos. Queria que a sociedade deles fosse completamente distinta da nossa. Eles foram feitos para não tomar decisões. São como formigas, existe uma rainha e uma questão biológica: se ela os abandona, eles ficam sem direção. Esta é a história, então eu os desenhei em função disso. Mas também queria que eles fossem humanóides, para que a platéia se identificasse um pouco com eles.
Vocês não mostraram muito do filme antes do lançamento, e isso pode até ser considerado uma decisão arriscada. Foi proposital?
Acho que sim...foi uma decisão tomada mais por Peter Jackson. Eu já ficaria suficientemente feliz com o filme se ela funcionasse por seus próprios méritos. Mas era angustiante pensar em ver o filme com uma platéia.
Qual foi o dia mais difícil pra você?
Bem antes de filmar, queria explodir minha cabeça. Me sentia pouco preparado, mais que qualquer outro diretor novato. Nada pode te preparar verdadeiramente para dois meses de filmagem. E quando eu me dei conta disso, me deu um ataque de pânico, senti que ia derreter. Mas aí cheguei num momento em que eu me senti melhor. Na primeira vez que mostramos o filme, pensei "Ufa...funcionou".
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