A onda
Nas redes sociais, governo perde batalha da comunicação
Analista diz que os órgãos oficiais perderam o tempo de reverter a informação desencontrada na rede
Do NE10
Os recifenses que consultaram o microblog Twitter na tarde desta quinta-feira (5) entraram em pânico. A maioria dos comentários dava conta de que o caos estava a caminho com a força de um tsunami. Uns relatavam o rompimento de barragens, outros, transbordamento de rios e canais. Tudo era corroborado com imagens de imóveis alagados. O desespero aumentava por não aparecer na rede qualquer comunicado oficial. O governador Eduardo Campos (PSB) só se pronunciou no final da tarde e pelo rádio. Nenhum comunicado pela internet, onde a boataria se espalhava desde cedo. O prefeito do Recife, João da Costa (PT), sequer falou. Para uma especialista em redes sociais ouvida pelo NE10, o governo - em suas esferas estadual e municipal - perdeu a batalha da comunicação. Até descobrir que a barragem de Tapacurá não havia estourado e que a elevação no nível da água era normal, a população se desesperou e a cidade, mais uma vez, parou.
O único post do perfil Governo Pernambuco (@governope) feito nesta quinta-feira foi por volta das 14h e trazia uma entrevista do secretário de Recursos Hídricos de Pernambuco, João Bosco de Almeida, concedida na noite de quarta-feira (4) e que não abordava as condições da barragem.
Por volta das 17h, no perfil da Compesa (@compesa), é que houve o primeiro posicionamento institucional. “Compesa garante: a Barragem de Tapacurá está operando dentro de absoluta normalidade. Informações que circulam sobre a barragem são infundadas”, informava. Uma hora depois, fez um pedido à população. “Compesa apela que as pessoas não propaguem boatos. A situação da Barragem de Tapacurá é tranquilia. Barragem opera dentro da normalidade”.
Mas já era tarde. A boataria já havia se espalhado. A palavra Tapacurá entrou nos Trending Topics - a lista das palavras mais citadas no Twitter - na cidade, no Brasil e no mundo.
“O governo perdeu a batalha da comunicação. Não havia estratégia para administrar essas coisas na rede. Desde que as chuvas começaram havia preocupação nas redes sociais e a ausência (do governo) era percebida. Só a população falava. O governador demorou a se posicionar e, quando se posicionou, não foi onde estava a confusão”, salientou Socorro Macedo, diretora executiva da Le Fil, consultoria especializada em redes sociais.
O perfil da Prefeitura do Recife (@recifeweb) também só se pronunciou pouco antes das 17h. Disse apenas que “com o objetivo de tranquilizar a população, a Codecir esclarece que não orientou o fechamento de qualquer estabelecimento comercial”. A postagem foi uma resposta aos empresários e diretores de escolas e faculdades que estavam dispensando funcionários e alunos mais cedo.
O twitter da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (@CTTU_RECIFE) postou pouco depois das 16h a seguinte mensagem: “Os canais estão transbordando sim, evitem transitar por vias que os cortam". Depois de críticas no próprio microblog a mensagem - cujo print você vê abaixo - foi apagada. Nos momentos seguintes, o órgão passou a divulgar a situação caótica do trânsito após a onda de boatos.
A especialista apontou que tanto Prefeitura, quanto Governo do Estado poderiam ter agido de maneira diferente. “Uma das coisas que poderia ter sido feita era falar ao vivo no Twitter. Também poderiam ter postado fotos e filmagens das barragens. Isso iria tranquilizar a população. Faltou estratégia de comunicação”, pontuou a especialista.
Para Socorro a situação vivida no Recife lembrou um episódio ocorrido em 2006, em São Paulo. Espalhou-se um boato pelo comunicador instantâneo MSN e pelo site de relacionamentos Orkut de que a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) faria uma série de ataques que não chegou a acontecer de fato. Lá, à época, o governo paulista também se pronunciou tardiamente. E não pela internet, mas pela TV. “Pelas redes sociais é possível dialogar direto com o público”, diferenciou a especialista.
Para não ser vítima de boataria, a orientação da consultora é checar as informações com pessoas de confiança e com fontes confiáveis de informação, como os veículos de comunicação. O Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) mantém um perfil exclusivo para informações sobre o trânsito (@JCtransito). Além, é claro, dos oficiais: @CTTU_RECIFE, @operacaoinverno, @recifeweb, @compesa e @governope. Basta apenas que esses sejam utilizados da maneira correta.
Do Portal NE10
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