Friday, September 14, 2012
“Crescimento dos evangélicos no Brasil está ligado aos televangelistas”, diz Russell Shedd.
Jussara Teixeira, 8 de Setembro, 2012
Teólogo consagrado: Russell Shedd fala sobre crescimento evangélico no Brasil e a teologia da prosperidade
Ele é PhD em Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, Escócia, fundou uma editora cristã – a edições Vida Nova – e tem seu nome em uma Bíblia de estudos. Mas somente esses itens não resumem o extenso currículo desse consagrado teólogo, chamado não sem razão de “Doutor Bíblia”.
Dr. Russell Philip Shedd é autor da Bíblia Shedd, considerada por muitos teólogos como a mais completa e conceituada Bíblia de estudo do mundo, reunindo em um só volume informação histórica, arqueológica, linguística e teológica.
Em sua preleção durante o aniversário de 50 anos da editora Vida Nova, que ajudou a fundar, fez questão de dar todo crédito a Deus pelo bem sucedido trabalho ao longo de tantos anos. “Escolher livros para serem publicados é um privilégio (…) e é por causa da editora Vida Nova que eles existem hoje, com a graça de Deus, surgiram aqueles livros, e das cabeças de seus autores. D’Ele são todas as coisas, e para Ele”, afirmou Dr. Shedd.
Nesta entrevista exclusiva ao Gospel Voice ele fala sobre o crescimento dos evangélicos no Brasil, o desenvolvimento do mercado editorial cristão e a teologia da prosperidade.
Acompanhe:
GV: Dados do Censo Demográfico divulgados em junho pelo IBGE mostraram que o numero de evangélicos no Brasil aumentou 62,45% em 10 anos e hoje são 42,3 milhões. A que senhor credita esse crescimento?
RS: Esse crescimento reflete a insatisfação com a religiosidade que herdamos de nossos pais, o catolicismo. Um dos atrativos das igrejas evangélicas são aquelas que visam respostas a problemas imediatos, um trabalho, uma enfermidade. Na televisão os televangelistas neopentecostais atraem muita gente, com soluções imediatistas e milagrosas.
Divulgação/Micheli LopesRS: As igrejas pentecostais e neopentecostais crescem de forma acelerada, mas as tradicionais também registram crescimento, mas não de forma explosiva. O tipo de culto também mudou. Antigamente tínhamos um culto formal, sem participação, muito semelhante ao culto católico.
Na televisão os televangelistas neopentecostais atraem muita gente, com soluções imediatistas e milagrosas.
GV: Qual sua visão sobre a teologia da prosperidade?
RS: Não compactuo com a teologia da prosperidade. Ela fala muito em melhorar esta vida, mas não fala muito na vida futura. Todos terão que responder para Deus quando comparecerem frente ao tribunal de Cristo. Eu gostaria muito que os neopentecostais dessem ênfase não só no agora mas também na salvação em Cristo, transformação de vida e não apenas em melhorar a vida física. Fica muito no material!
GV: Acredita que o número de evangélicos continuará subindo? Dentro dele, o número dos “sem igreja”, pessoas que passeiam entre as igrejas e não tem uma fixa também está subindo. O que acha desse fenômeno?
RS: Acredito que vá continuar, mas com mudanças. Talvez não cresça tão rapidamente, pois temos que contar as pessoas que estão saindo, que são muitos, aqueles que realmente não querem mais congregar.
Eu gostaria muito que os neopentecostais dessem ênfase não só no agora, mas também na salvação em Cristo, transformação de vida e não apenas em melhorar a vida física. Fica muito no material!
GV: O que acha daqueles evangélicos que decidiram não mais frequentar uma igreja e cultivam sua espiritualidade de forma isolada?
RS: O problema é que eles não conhecem suas Bíblias. A Bíblia diz que não há salvação privada. Somo salvos no corpo de Cristo. O corpo de Cristo é uma reflexão da própria igreja, e o Espírito é a vida da igreja. Portanto, uma pessoa que se afasta da igreja está se afastando do próprio Senhor Jesus.
GV: Também o número dos sem religião – ateus e agnósticos – teve um aumento de 0,6% nos últimos dez anos. Esse fenômeno é mundial. O que acha de tal fato?
RS: O ensino nas universidades, muitos dos professores são ateus. Em locais onde a educação não é tão avançada, não existe tanto ateísmo. É também um fenômeno de grandes centros.
A Bíblia diz que não há salvação privada. Somo salvos no corpo de Cristo. O corpo de Cristo é uma reflexão da própria igreja, e o Espírito é a vida da igreja. Portanto, uma pessoa que se afasta da igreja está se afastando do próprio Senhor Jesus.
RS: Nunca imaginei que poderia explodir em números tão enormes. Quando chegamos ao Brasil todos os livros evangélicos cabiam em uma estante. A facilidade de edição e publicação mudou radicalmente e a computação ajudou muito nisso. A questão da qualidade sempre entra em discussão. Isso vai de acordo com quem lê! Se o livro é erudito, cheio de boas ideias e grandes ensinamentos teológicos mas ninguém lê, que adianta? Temos que sempre manter todas essas coisas em mente: tem que ser compreensível, atraente e também confiável de acordo com a Palavra.
GV: Estão surgindo traduções de Bíblias bem informais, como a The Voice, aonde as Escrituras vem em forma de roteiro de cinema. Acredita que essas traduções perdem a credibilidade e esvaziam o texto bíblico?
RS: Essas versões tem uma vantagem e uma desvantagem obviamente. Edições como a Bíblia Viva ou na Linguagem de Hoje são traduções dinâmicas e tem a vantagem que interpretam a Bíblia. Eu prefiro trabalhar coma língua original e saber realmente o que o autor escreveu e não o que tal pessoa pensa que ele escreveu.
[O ensino da teologia no Brasil] é como a própria educação no Brasil, que tem excelentes universidades e professores de nível internacional.
GV: Acredita que as lideranças estão sendo bem preparadas? Como está o ensino da teologia?
RS: Temos ótimos professores e seminários mas também tem muitas escolas que têm pouquíssima profundidade e qualidade de professores. É como a própria educação no Brasil, que tem excelentes universidades e professores de nível internacional. Mas também tem pessoas que saem da escola primária e não sabem nem ler. Esse é o problema que estamos enfrentando em todas as áreas, inclusive na teológica.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment